terça-feira, 8 de março de 2011

VIVA! A nós, mulheres, educadoras.

(Gabriela P.B. Fernandes – educadora)
O Dia Internacional da Mulher é uma ótima oportunidade para lembrarmos do valor do trabalho que nós, professoras, educadoras do mundo, desenvolvemos diariamente no exercício da nossa profissão. É algo tão grandioso que, desde que feito com o real comprometimento assumido no juramento no dia da formatura do magistério, valeria o melhor salário que o sistema deveria pagar. Mas que na verdade, não há salário que pague o aprendizado adquirido com a interação num ambiente escolar.
Uma nova escola, uma nova turma, novos olhares, novas famílias, novas questões. É assim. Quando entramos em uma nova sala, o planejamento é sempre diferente, pois os alunos são outros, é uma realidade nova. Adaptamos nossa característica profissional às necessidades da nossa turma. É a nossa turma, aquela com a qual caminharemos por um ano letivo e pela qual temos o comprometimento com o conteúdo didático a ser construído. É a nossa turma, que se mostra aos poucos. São alunos. Meninos e meninas, crianças, adolescentes, adultos, cada um com sua questão, cada um com sua busca. Uns mais tranqüilos, outros mais ansiosos. Uns mais organizados, outros que, misteriosamente, sempre perdem o lápis e a borracha que você empresta. Mas a realidade de um ambiente escolar é muito flexível. Não existe a sala de aula perfeita, pois não existe a estrutura familiar perfeita. Há diferenças sim, cada comunidade tem sua característica. E uma boa educadora, é aquela que sabe se adaptar a essa condição.
A educadora, a unidade escolar e a comunidade só constroem uma educação de qualidade se caminharem juntas o caminho da educação. Um portão aberto que se fecha na hora certa colocando o limite que situa. Assim, há uma diferença muito grande entre a equipe pedagógica que, conhecendo a sua realidade social, recebe uma nova professora e coloca que um aluno precisa de limites e um posicionamento exigente, mas de afeto pois vive num mundo muito carente; e, aquela que diz que não se estabelece relação afetiva com aluno para que não haja perda de controle.
Ora, estar em uma escola, é olhar vários rostos e saber ver através dele. Entender que se o seu aluno tirou o sapato, ou melhor, a bota de plástico dentro de sala é, dando a chance dele se explicar, escutar que, estando sem meia, o pé estava queimando num dia mais quente; saber que uma touca que não pode ser tirada, pode estar escondendo uma infestação de bichos berne na cabeça de uma criança. Essa é a realidade da nossa educação. A realidade para qual uma educadora deveria estar muito bem preparada. Como construir a aprendizagem se a cabeça ou o pé queimam, se o estômago dói, se o cheiro de xixi na própria roupa é tão forte que incomoda os colegas e isso gera comentários? Fora o ambiente familiar, a estrutura fora da escola, a convivência em casa, o ambiente, enfim, a realidade desse aluno. É triste, pensarmos que planejamos todo nosso trabalho esperando resultados positivos mas que nos deparamos com obstáculos tão grotescos que nunca desejaríamos escutar. No entanto, a tristeza existe exatamente pelo desejo de que nossos alunos sejam muito mais do que aquilo que a realidade lhes impõe. E justamente aí entra o nosso valor como educadoras. O olhar feminino, aquele que acolhe com carinho, aquele que olha com afeto essas questões. O caminho que construímos com a caminhada. Essas pedras que retiramos e que passamos a conhecer, nas quais não podemos pisar. Um portão aberto a esses alunos, a suas mães e familiares.
Cada comunidade com sua característica. Uma que leva suas crianças à unidade alcoolizada e assim as sustenta em casa, para enganar a fome. Outras que mesmo carentes participam da unidade escolar por essa estar sempre com os portões abertos receptivos à ela. Outra que evade da escola por não receber o limite que situa nem a atenção que precisa para construir sua identidade como comunidade.
Sendo assim, qual é o nosso real juramento como educadoras? Devemos ter tantos limites afetivos no contato com nossos alunos ou nos abaixar a sua altura para olhar em seus olhos a fim de conhecer seu verdadeiro rosto?
Educar é uma tarefa nobre! Merecia, sim, ser a profissão mais valorizada. Merecia, sim, o melhor salário. Mas, merece muito mais do que isso. Merece as nossas mãos. Merece saber dizer a um aluno que existe uma troca satisfatória de aprendizado com o conhecimento que adquirimos com ele. Merece das nossas mãos os melhores gestos. Merece das mãos de quem tem o poder de um sistema, o melhor olhar. O olhar que enxerga a profissão e o local de trabalho como a base da estruturação social de um mundo. Existe um mundo tão vasto no universo escolar!
Dessa forma, sejamos educadoras com olhar! Com amor, com afeto, com limites e, acima de tudo, com compromisso ao que fazemos. Mulheres dotadas de emoção. Mulheres que são gente! Mulheres que dão à vida novas vidas e que com esse olhar saibam ver os filhos gerados por outras mulheres como nossos, assim como sabendo dos próprios limites, sejam capazes de exercer o que Jesus nos pediu: “amar ao próximo como a si mesmo”.