segunda-feira, 26 de julho de 2010

Cidadãos! Acordados ou sonhando, veremos nossa Petrópolis parar?

(Gabriela P. B. Fernandes – profª)


A atual situação em relação à educação e saúde de Petrópolis, me fez lembrar, como educadora, mãe de aluno de escola pública, petropolitana, mas principalmente como cidadã, em composições de dois brasileiros que tão bem já representaram através de suas ideias, questionamentos sobre o nosso cotidiano. Raul Seixas havia pensado sobre o dia em que o sistema para por não haver mais razões ao seu caminhar, e Paulo Freire descreveu a escola como ela realmente é.
Acompanhando as questões dos servidores como dos representantes do governo municipal, que justificam suas atitudes perante a movimentação de greve, não venho defender nenhum dos dois, mas coloco-me a pensar sobre a fragilidade na qual estamos inseridos vivendo globalizados mas enfrentando já há mais de 10 dias as mudanças ocorridas por conta do que se chama CIDADANIA.
Todos nós, cidadãos, apreendemos na escola os conceitos necessários sobre relações de espécies e como seres humanos, animais racionais, que somos, entendemos através dos nossos professores, que num sistema, um depende do outro e na hora em que um falta, o outro é prejudicado.
Por isso, reflito sobre o dia em que Petrópolis parou, pode vir a parar ou vai mesmo parar.
A cidade teria feito parte de um dos sonhos de Raul Seixas e Cláudio Roberto, em 1977, quando escreveram a música “O dia em que a terra parou?”

“Essa noite eu tive um sonho de sonhador
Maluco que sou, eu sonhei com o dia em que a terra parou
O aluno não saiu para estudar.
Pois, sabia, o professor também não tava lá.
E o professor não saiu para lecionar
Pois sabia que não tinha mais nada para ensinar”.

Em relação à educação: quantas pessoas não estão saindo? Principalmente as crianças, não estão saindo da frente da televisão, ou de suas camas, ou de suas casas, pois estão sabendo que não tem porque ir. Ir pra onde? Ir pra escola que serve para muitos como porto seguro contra as questões difíceis do dia-a-dia, está sendo em Petrópolis, uma atividade difícil. Pessoas envolvidas que caminham junto ao calendário escolar, também estão parando, como o caso de comerciantes do trajeto escola-casa continuam saindo mas os produtos que vendem não saem com a mesma intensidade sem o movimento das crianças; além também dos motoristas de transporte escolar, que rodam mas não tem a mesma rotina; e assim, todos...
Mas, o que mais interessa nesse momento é como na música em que o “sonhador” disse que o professor não tinha mais nada para ensinar. As crianças estão dispostas a estudar, pois a escola é a referencia, mas o que se ensina? Ensinar sobre direitos e deveres a uma criança que vê a sua merenda na escola sendo preparada pelo profissional que tem como obrigação trabalhar o tempo que lhe foi determinado em contrato mas que recebe por isso menos do que lhe garante a lei como direito? O que ensinar na escola? Ensinamos, como educadores, as nossas crianças que elas devem respeitar o outro, tratando-lhe com educação e tendo atitudes que considerem as suas questões como válidas, mas na hora em que é necessário ouvir há o exemplo de omissão e total descomprometimento com as causas que incluem pessoas, suas famílias e todos que direta ou indiretamente estão envolvidos no salário recebido no fim de cada mês.
Em relação a saúde, para onde ir?

“E o paciente não saiu pra se tratar
pois sabia que o doutor também não tava lá.
E o doutor não saiu pra medicar
Pois sabia que não tinha mais doença pra curar”.

Sair e ir sem ter como certeza de que se chegar ao posto de pronto socorro terá como direito garantido o atendimento que lhe é necessário. É assim que se ensina: mesmo que as crianças petropolitanas não estejam em horário escolar, a vivencia é aquela que mais ensina, cidadãos não estão vendo o direito de seus afins garantidos. Um afim que também pode ser o doutor que deveria estar curando as doenças mas que não saiu porque não se sente motivado a deslocar sua energia desenvolvendo trabalho em cima dos conhecimentos que construiu em sala de aula com os professores responsáveis por essa função.
E todos somos envolvidos. Onde a cidade vai parar?
Quais são nossos direitos e deveres?
Temos o direito de manifestação das nossas ideias desde que elas não desrespeitem o espaço do outro, mas temos o dever de respeitar o nosso espaço e ver nossos direitos garantidos para que possamos viver com dignidade ensinando aos nossos dependentes, que só podem ser as crianças, aqueles que estarão em épocas futuras exercendo suas atividades com os exemplos que estão vendo agora, como se vive a cidadania.
Mas qual é o direito de uma criança e qual é o dever de uma escola? A escola como instituição tem seus deveres que devem ser exercidos desde que aqueles que lhe conduzem tenham os seus direitos garantidos e assim, muito bem escreveu Paulo Freire:

A Escola
“A Escola é... o lugar onde se faz amigos. Não se trata só de prédios, salas, quadros, programas, horários, conceitos ... Escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece, se estima. O diretor é gente, o coordenador é gente, o professor é gente, o aluno é gente, cada funcionário é gente. E a escola será cada vez melhor na medida em que cada um se comporte como colega, amigo, irmão. Nada de “ilha cercada de gente por todos os lados”. Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir que não tem amizade a ninguém; nada de ser como o tijolo que forma a parede, indiferente, frio, só. Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar, é também criar laços de amizade, é criar ambiente de camaradagem, é conviver, é se “amarrar nela”! Ora, é lógico... numa escola assim vai ser fácil estudar, trabalhar, crescer, fazer amigos, educar-se, ser feliz.”
Sendo assim: educar-se na escola! Obter conhecimento na escola! Crescer na escola! Ser formado na verdadeira cidadania. O que será que Paulo Freire estaria pensando num momento desse na cidade de Petrópolis? E o que estão nossas crianças pensando? Raul Seixas terminou a música cantando que no dia em que a terra parou, ele acordou, não sonhou... Que acordamos todos ao pensar, antes que a nossa cidade pare, o que é ser aluno, o que é ser escola, o que é ser educador, o que é ser representante, o que é ser principalmente Cidadão.


Artigo publicado na Tribuna de Petrópolis – 12/06/2010
Contato: gabriela-pujol@hotmail.com
















Quem somos no espetáculo da educação?
(Gabriela Pujol Bell Fernandes – profª).

Uma parte da educação pública em Petrópolis está parada. Isso aconteceu e essa situação continua sendo alvo de atenção. E então surge a reflexão sobre o que mais importa no ato de educar. Onde está o nosso juramento como profissionais ou para aqueles que não são profissionais graduados mas trabalham em cargos tão importantes, onde está o comprometimento que serve como exemplo?
Educamos todos os dias, nos educamos, educamos nossas mentes de acordo com as nossas atitudes pois inseridos num ambiente social elas refletem e transformam esse meio já que esperamos sempre que um mundo melhor mais justo, mais digno, mais humano surja. Então, como construir o espetáculo da vida? Transferimos conhecimento aos nossos alunos e às pessoas com quem convivemos mas, principalmente aquelas que, dependem de nós para aprender o que lhes é necessário, e, dessa forma, somos condutores que tem nas mãos uma grande missão. As vezes, como compôs Zé Ramalho, em Admirável Mundo Novo, “ é duro ter que caminhar, e dar muito mais do que receber. E ter que demonstrar sua coragem, a margem do que possa parecer, e ver que toda essa engrenagem, já sente a ferrugem lhe comer”; porém, olhando o outro é fácil perceber que a nossa vida é melhor do que a de muitos, é igual e às vezes é pior pois nos acreditamos tão superiores no alto da cadeia alimentar e no entanto, destruímos as nossas próprias relações.
Usemos o coração como órgão representante das emoções além de apenas a razão e caminhemos oferecendo nossa sabedoria com o simples propósito de transmitir o que é importante e tem valor. Para Augusto Cury em “Nunca desista de seus sonhos”, o professor precisa de sonhos para transformar a sala de aula num ambiente prazeroso e atraente que educa a emoção dos seus alunos, que os retira da condição de espectadores passivos para se tornarem atores no teatro da educação.
“Para o espetáculo da vida entreter, é importante que seja bem representado; para isso são necessários bons atores”, assim pensou o filósofo Nietzsche em Assim Falou Zaratustra.
E onde estamos educadores, atores da vida? O que estamos fazendo? Qual é o nosso espetáculo que fará com que a platéia levante-se e aplauda, reconhecendo que a mensagem enviada através de nossas atitudes ou palavras lhes acrescentou a alma; ou que apenas seguirá seu caminho refletindo sobre o que ouviu.
Sendo assim, voltemos a Nietzsche: “a palavra ‘educação’ significa: transformação através de novas e mais altas apreciações, que devem reinar sobre a humanidade semelhantes a condutores e orientadores do modo de agir e da concepção da vida”.
Dessa forma, entreguemo-nos à educação sem esperar reconhecimento mas conscientes da influencia na platéia que nos assiste.
Artigo publicado na Tribuna de Petrópolis – 23/06/2010.

E os alunos, quem são?
(Gabriela Pujol Bell Fernandes – educadora)

A educação é um assunto pertinente. Dela depende o ser humano para constituir-se sujeito num mundo vasto de questões necessárias ao seu desenvolvimento e assim, crescimento. Esse ser humano é aluno que precisa do Outro, no caso os professores da vida ou educadores; ou melhor, como explicou Rubem Alves em “Conversas com quem gosta de ensinar” que definiu o ser professor como profissão e o educador como vocação;
Sendo assim, se os professores são educadores que trabalham com a educação a fim de possibilitar a construção da aprendizagem a seus alunos, quem são esses alunos? O que eles buscam em nós educadores?
Educar é transformar. É trabalhar com algo valioso que é a vida. É ter em cada dia, um dia muito especial pois se a aprendizagem se constrói, um aluno também se constitui sujeito em todos os momentos em que interage com a vida. Pensar, como no livro “O pequeno príncipe” em que Saint-Exupéry faz a seguinte colocação: “Porque o rei fazia questão de que sua autoridade fosse respeitada. Não tolerava desobediência. Era um monarca absoluto. Mas, como era muito bom, dava ordens razoáveis. ‘Se eu ordenasse’, costumava dizer, ‘que um general se transformasse numa gaivota, e o general não me obedecesse, a culpa não seria do general, seria minha’’.
Por isso, um aluno precisa de nós. Seja uma criança, um jovem ou um adulto, ele será sempre aquele que busca se aprimorar mais e que existe por que tem na vida uma estrutura social e questões psíquicas que lhe impõem a caminhada. Trará à sala de aula suas experiências. Terá dificuldades que irão de acordo com as seus limites. Buscará resultados para superar suas expectativas. Estabelecerá uma comunicação com o meio da forma que melhor lhe seja a fim de construir a própria existência.
Para Maria Montessori em “A Criança”, “eis a verdadeira nova educação: partir primeiro à descoberta da criança e efetuar sua libertação. Nisto, pode-se dizer, consiste o problema da existência: primeiro, existir”. No entanto, somos todos alunos e pensando na interação, sempre que olharmos o Outro, ou o próximo, como um aluno da vida, estaremos agindo como ela sugeriu no mesmo livro: “só assim é possível dar início a uma nova era de educação: a do auxílio à vida”
“Existência clama por significado”, como propôs o filósofo Sartre. Existimos como alunos e aos nossos alunos. Existimos porque queremos que nossa vida seja a melhor e assim significamos a eles a luz que orienta o caminho e clareia a existência. Assim, construímos a nós próprios como alunos da vida pois nos aprimoramos, nos transformamos, crescemos e não paramos mais de crescer por estarmos em constante desenvolvimento.
Artigo publicado nos jornais Tribuna de Petrópolis e Diário de Petrópolis – 30/06/2010.

Nós, alunos, bons escolhedores.
(Gabriela Pujol Bell Fernandes – educadora).

A educação com a qual se constrói a vida tem a importante e diria mais nobre missão de tornar, os humanos, seres integrados num mundo globalizado e assim altamente conscientes de sua responsabilidade na interação com o mesmo. Os conhecimentos construídos na escola e na vivencia do dia-a-dia estão preparando, principalmente, nossos alunos à essa realidade? Conhecemos realmente o mundo em que vivemos sabendo realmente qual o sentido de tantos conceitos matemáticos, gramaticais, históricos e/ou geográficos que apreendemos na escola?
Ao sofrer mudanças de uma abordagem transdisciplinar para construtivista, a educação passou a pensar o ser humano como agente ativo da construção da aprendizagem, ao invés de apenas receptor passivo do conteúdo transmitido pelo professor, agente ativo. Dessa forma, tendo como principal objetivo que o aluno entenda-se como sujeito inserido na própria aprendizagem.
Sendo assim, estamos proporcionando a eles conhecimentos necessários a boas escolhas na construção da própria vida? Para Charlie Brown Jr. na música “Uma criança com seu olhar”, “nossas escolhas vão dizer pra onde iremos”, assim como o que é fundamental para o filósofo Kierkegaard segundo Jostein Gaarder em “O mundo de Sofia” , “somente quando agimos, e sobretudo quando fazemos escolhas, é que nos relacionamos com nossa própria existência“.
Por isso, trazer o aluno a entender a sua própria existência e de que forma está inserido no mundo, qual a sua importância e de uma forma concreta mostrar-lhe como fazer uso do que aprende na escola é uma forma de torna-lo responsável e consciente das suas escolhas. De uma forma prática, com os cuidados com a natureza, em atitudes que hoje, individuais parecem tão pequenas mas que por exemplo, a economia da água, luz e materiais como papel, a coleta do lixo, são importantes em cada pedacinho do planeta; há muito o que se ensinar. Uma conta de matemática para calcular o consumo da água e da luz no banho, na pia da cozinha, na máquina de lavar, na hora de lavar o carro..., assim como o impacto ambiental de pequenas atitudes a grandes como o acidente com o petróleo no México. Entender assim a aprendizagem escolar da forma transdisciplinar é proporcionar que os alunos entendam como argumentou Kierkegaard segundo Paul Strathern na coleção “em 90 minutos”, “que os valores que fazem do indivíduo o que é também fazem o mundo”.
Que mundo queremos para nós, alunos globalizados mas que conhecemos tão pouco das realidades que não fazem parte da nossa realidade? Estamos realmente globalizados? Construímos na escola conceitos favoráveis a isso? E o futuro? Será como escolhermos hoje. Iremos aonde nossos desejos, por conta da nossa consciência, nos levarem. Construiremos um mundo melhor conscientes do que queremos?
Enfim, será o que quisermos que seja.
Artigo publicado no jornal Diário de Petrópolis – 13/06/2010
Vendo o mundo
Gabriela Pujol Bell Fernandes – profª

O mundo é feito de relações. Existimos nas nossas necessidades. Cada um com a sua. Cada um com seu mundo. Somos e os outros também são. E, assim, o mundo se transforma. O nosso mundo se transforma quando o outro está nele. Mas como é o mundo do outro? E se falarmos na interação da escola, como é o mundo dos nossos alunos? Existe uma palavra em alemão “einfühlung” que quer dizer empatia e que significa sentir o que sentiria se estivesse na situação vivida pela outra pessoa.
Para o filósofo Nietzsche no livro Aurora, aforismo 118, “o que é então o próximo? – Que compreendemos de nosso próximo, senão suas fronteiras, quero dizer, aquilo com que ele se inscreve e se imprime em nós e sobre nós? Nada compreendemos dele, senão as mudanças em nós que são por ele causadas. Nós o construímos segundo o que sabemos de nós, dele fazemos um satélite de nosso próprio sistema: e, quando ele nos ilumina ou se escurece, e somos a causa última de ambas as coisas – nós acreditamos o contrário!”
O outro principalmente os alunos transformam nossa vida. Se nos permitirmos saber de cada aluno o que lhe impõem a caminhada, percebendo que não somos responsáveis por apenas lhes possibilitar a construção do conhecimento, mas tendo em vista o propósito dessa construção, nos seus limites de mundo, o próprio mundo escolar se tornará um local no qual a aprendizagem será vivida com uma perspectiva mais saudável e interessante.
“O levantamento mostrou que 40% dos jovens entre 15 a 17 anos que evadem das unidades de ensino deixam de estudar simplesmente porque acreditam que a escola é desinteressante”. Essa afirmação é de Sabrina Pacca em “Desisnteresse leva à evasão escolar”, matéria publicada no site www.fgv.br, sobre uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas.
Dessa forma, o mundo se constrói. O mundo que nossos alunos trazem de casa e que gostam de trazer à escola porque olharemos a eles com interesse para que haja a verdadeira interação aluno-professor. No livro “Uma professora fora de série”, Esmé Raji Codell fez a seguinte colocação: “Um dia a Ismene me disse: - A diferença entre uma professora iniciante e uma professora experiente é que a professora iniciante pergunta: “Como estou me saindo?” e a experiente pergunta:”Como as crianças estão se saindo?”.
Nós, educadores, alunos da vida, experientes, nos sairemos bem ao proporcionarmos essa interação tão nobre dentro do espaço escolar e que influencia tanto o cotidiano deles quando não estiverem perto de nós, pois saberemos como eles estão se saindo na vida com um mundo rico de informações e bem construído como nós auxiliamos.

Artigo publicado na Tribuna de Petrópolis – 18/07/2010



Conhecer a nós mesmos.
(Gabriela Pujol Bell Fernandes – profª)

O ser humano é concebido, nasce, cresce, desenvolve-se e morre. Assim acontece o ciclo da vida. Cheio de mistério, tão rico, tão intenso que vai diretamente ao encontro da necessidade das relações, da necessidade do Outro, daquele que completará o que falta. E, assim, é a vida. Existimos porque o Outro existe, mas somos particulares nas nossas próprias questões. Mas, quem somos nós? Somos nossos melhores amigos, pois nos conhecemos a nós próprios como propôs Sócrates com a sua belíssima indagação filosófica: Conhece-te a ti mesmo?
No desejo para que façamos parte da vida, há a nossa concepção. Um ser humano precisa do Outro pra isso. E, assim, somos gerados, numa disputa como contou Augusto Cury em “Você é Insubstituível”, “a disputa do espermatozóide para fecundar o óvulo. A corrida pelo direito de formar uma vida. Talvez você nunca tenha imaginado, mas já participou da mais excitante e perigosa aventura da existência”. Um precisa do outro. Mas desde que é liberado, aquele espermatozóide que é o mais forte, o mais determinado, por razões que a nossa razão desconhece e que fazem parte do mistério da vida, aquele que quer realmente participar, consegue fecundar o óvulo. E, assim, começamos a existir. Nossas células crescem, mudam, se transformam e nós vamos ganhando características. E somos o outro, aquele para quem a nossa mãe está transmitindo o que lhe é possível fornecer ao nosso desenvolvimento. Crescemos num ambiente interno que nada mais é do que o reflexo do meio externo no qual o desejo de que existíssemos aconteceu. Aí vem o pai e a família toda, as amizades e todos aqueles e tudo aquilo que faz parte do meio no qual essa mãe está inserida.
Por isso, a vida acontece. Ela é assim. Nós somos assim. Cada um com sua característica e cada um com sua história. Cada um com sua personalidade. Mas será que nos conhecemos tão bem? E o que fazemos com o que sabemos a nosso respeito? Existe uma colocação de Spinoza no livro “A arte do aconselhamento” de Rollo May, que diz o seguinte: “Eu vi que todas as coisas que eu temia nada tinham de bom ou mau, em si mesmas, mas apenas na medida em que a mente era por elas afetada. Aquele que compreende a si mesmo e a suas emoções, ama a Deus e quanto mais ama, mais compreende a si mesmo e suas emoções”. Assim como que para Sócrates, no mesmo livro, “uma vida que não é analisada não vale a pensa ser vivida”.
Existimos e quando nos conhecermos sabendo das nossas reais questões, sabendo como usar realmente todas as nossas capacidades e as disponibilidades de um organismo tão rico e cheio de vitalidade, será fácil fazer o que propôs Saint-Exupéry no livro “O pequeno príncipe”, “Tu julgarás a ti mesmo. É o mais difícil. É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues fazer um bom julgamento de ti, é um verdadeiro sábio”.
Sendo assim, sendo capaz de julgar a nós mesmos na fidelidade da nossa própria amizade tendo em vista que a nossa necessidade é acordar e dormir todos os dias construindo dessa forma, a vida, ficará claro que é esta que merece o nosso melhor julgamento pois para Nietzsche em “Assim Falou Zaratustra”, “dez vezes ao dia deve reconciliar-se consigo mesmo, porque é difícil vencermo-nos, e o que não estiver reconciliado dorme mal”.. Conciliados com a própria vida, em cada dia na nossa caminhada como um dia muito importante na construção da nossa vida, pois para Saint-Exupéry no mesmo livro, “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Só as crianças sabem o que procuram. Perdem tempo com uma boneca de pano, e a boneca se torna importante, e choram quando lhes é tomada...”.
Assim é fácil sermos nossos melhores amigos. Assim saberemos que a nossa existência, tão particular, tão pequena num mundo tão povoado, porém tão grande no tamanho da importância que dermos a ela. “Você era o Romeu-espermatozóide, profundamente solitário e apaixonado pela Julieta-óvulo. Um mundo de obstáculos havia entre você e sua amada. Você cometeu loucuras de amor para viver esse romance. Nunca alguém foi tão apaixonado pela vida como você”, assim descreveu Augusto Cury no mesmo livro citado. Saberemos o que queremos ao adquirir uma boneca que é válida, assim como todos os conceitos e objetos e atitudes, enfim, todas as nossas escolhas. Seremos responsáveis pela nossa própria vida que tão bem pode ser cativada.

terça-feira, 20 de julho de 2010

AH! Os amigos

AH! Os amigos.
(Gabriela Pujol Bell Fernandes – educadora).

O dia do amigo, hoje, 20 de julho, merece ser comemorado. Com manifestações físicas, materiais, por e-mail, por SMS, festas, ou com uma simples frase de “muito obrigado, amigo, por você caminhar comigo e auxiliar na construção da minha vida com seu jeito particular de ser”; assim como tantas formas que os verdadeiros amigos sabem como o outro pode ser lembrado.
Por isso, hoje a reflexão nos leva aos amigos. Como é ser um amigo?
“Os verdadeiros amigos”, como definiu Frei Anselmo Fracasso em “A arte de viver feliz”, “caminham juntos, crescem juntos e juntos se aperfeiçoam”.
Assim, tantas colocações fazem parte do nosso mundo sobre esse assunto, como as contidas nas letras de músicas como: “Canção da América“ por Milton Nascimento” “amigo é coisa pra se guardar no lado esquerdo do peito, dentro do coração...” ou em “Amigo” por Roberto Carlos, “você é meu amigo de fé, meu irmão camarada, amigo de tantos caminhos, de tantas jornadas...” ou em “Amigos para Sempre” por Agnaldo Rayol “amigos para sempre é o que nós iremos ser...” e, assim em tantas composições, mesmo nas mais antigas como em “Você e eu“ por Balão Mágico “Clara como a luz e certa como a verdade, quem é que não sabe do que eu quero falar? É da amizade...”.
Pois é, um assunto tão pertinente e tão rico. O que é a amizade? Voltemos a Frei Anselmo Fracasso: “A amizade é ajuda recíproca para o mútuo aperfeiçoamento”. Por isso, a amizade acontece. Ela não tem regras. Nós a construímos. Às vezes dá certo, às vezes não dá. Pode ser bonita, interessante, acrescentar ou tirar algo de nós, nos decepciona, nos deixa mais felizes; às vezes queremos que alguém esteja perto de nós, mas às vezes essa pessoa não quer nossa amizade e depois de uma longa caminhada juntos, não nos acompanha mais como descreveu Nietzsche em “A Gaia Ciência – livro I – aforismo 16”, “Uma vez estivemos tão próximos na vida, que nada mais parecia tolher nossa amizade e irmandade, e havia tão-só uma pequena passarela entre nós. Quando você ia pisá-la, perguntei-lhe: ‘Você quer cruzar a passarela para vir até mim?’. – Mas então você já não queria; e, quando solicitei novamente, você se calou. Desde então, montes e rios torrenciais, e tudo que separa e alheia, foram lançados entre nós, e ainda que quiséssemos nos aproximar, já não poderíamos! E quando você recorda aquela pequena passarela , não tem mais palavras – apenas soluços e assombro”.
Cada um com seu amigo, cada um com suas questões, cada caminho com suas passarelas. Um amigo é aquele que nos conhece, caminha conosco e mesmo que não queira atravessar pontes, saberemos com a compreensão da amizade, que ele não o fez porque talvez não estava pronto, ou porque suas questões que lhe impõem a caminhada existem e são para ele válidas nas suas escolhas.
Sendo assim, “a amizade é uma forma de amor”, segundo Frei Anselmo Fracasso no mesmo livro citado; e, “só poderá amar com sabedoria aquele que”, segundo Ovídio em “A arte de Amar”, “conhecer a si mesmo, pois só ele terá forças para seu empreendimento”.
Somos nós, verdadeiros amigos? Os amigos podem ser amorosos, compreensivos, empáticos; podem ser aqueles com quem trabalhamos, estudamos ou viajamos; podem ser pessoas mais novas ou mais velhas que nós; podem ser homens, podem ser mulheres; podem ser aqueles com quem apenas contamos para algum momento; aqueles que nos conhecem e mesmo de longe sabem o que se passa na nossa vida, de uma forma misteriosa nos percebem, nos entendem, nos compreendem; também podem ser aqueles para quem não cansamos de falar as mesmas coisas tentando ajudar e que mesmo no fundo do poço ainda tentamos porque criamos algum sentimento que não conseguimos explicar; enfim, assim e de tantas outras formas, amizade é algo tão íntimo, tão misterioso que diante de tantas suposições talvez não haja uma resposta para defini-la. Encontramos nela o que queremos e precisamos, como no filme Star Wars (Guerra nas Estrelas ) episódio V em que o aprendiz Jedi encontra-se na porta de uma caverna e pergunta ao seu mestre o que haverá lá dentro, e escuta que só o que levar com ele.
Dessa forma, viva! ao dia do amigo. Ser amigo ou ter um amigo. Ser amigo e ter amigos. Sejamos amigos de nós mesmos e tenhamos amigos que acreditam na nossa amizade.