domingo, 27 de novembro de 2011

A árvore da vida

Existe um filme novo nas locadoras chamado "a árvore da vida" com Sean Penn e Brad Pitt. Espetacular sobre as relações humanas com a natureza e Deus. Cenas fantásticas da vida natural que nos cerca numa harmonia perfeita com a interpretação das personagens e a trilha sonora com composições clássicas como as de Johannes Brahms. Interessante sobre a razão da nossa existência e a relação entre o destino e a conseqüência das nossas atitudes sobre a nossa própria vida e a dos outros.
Há uma força maior no universo que rege a nossa vida. Essa força é Deus ou a natureza existente em processos científicos e físicos? Ou conseqüências das nossas atitudes num movimento de ação e reação? Deus criou o mundo e esse responde a nós da forma como interagimos com ele? Se somos mais fortes e pisamos nos mais fracos, esses poderão ficar imobilizados por medo. Se somos racionais e temos a capacidade de transformar e usar a nossa inteligência com mais capacidade e força sobre a natureza, como essa responderá a nós?
Dentro dessa perspectiva, o filme traz uma reflexão muito importante sobre relação entre pai e filho. O poder que um pai tem com a posição de superioridade em relação a um filho em formação. A posição que tem os homens sobre o que acreditam ser a verdade absoluta no poder de Deus. Ou o filho aceita as imposições divinas acreditando que deve ser submisso a uma força maior que ele, ou enfrenta os questionamentos sobre como vê o mundo e sua própria existência. O pai tirânico que reconhece seus próprios fantasmas interiores e acaba por submeter os filhos ao regime disciplinar muito severo. Há um momento em que ele se dirige ao filho mais velho, o que é o mais pensativo sobre os poderes do pai, e coloca o seguinte: “você deve ter o controle sobre o próprio destino. Não diga: não consigo; e sim, ainda não concluí, tenho dificuldades. Não deixe ninguém dizer que há algo que não consegue fazer. Enquanto você espera algo acontecer, lá se foi."
Qual o nosso poder sobre o nosso próprio destino? Ser regido por forças naturais sobre as quais não temos controle, mas ao mesmo tempo conduzir a nossa vida questionando e modificando o que nos é possível de forma que a nossa relação com a natureza seja de harmonia e paz? Quando um dos filhos morre, há uma ligação espetacular entre cenas de fenômenos naturais com o questionamento a Deus, feito pela mãe: “eu fui infiel a você? Por que? Onde vc estava? Você sabia? Quem somos nós pra você?. ”
.A natureza, mostrada no filme, é aquela que nos dá de presente o colorido da vida, as lavas de um vulcão em erupção, o rio tranqüilo que se transforma em cachoeira; a lagarta de uma cor só que se transforma em borboleta com cores variadas em uma perfeita harmonia em duas asas com a mesma seqüência colorida; a união de células que dá origem à vidas novas como a dos seres humanos num processo científico regido pelo mistério da vida e que se altera de uma forma boa ou ruim de acordo com nossas escolhas e assim, conseqüência das nossas atitudes; e muitas outras como a cobra que rasteja por baixa da água, os oceanos, a vegetação, os mares, ...
Sendo assim, esse filme é fantástico e por isso, indispensável, pois traz uma abordagem muito positiva sobre a vida. Transmite mensagens sobre a relação entre o homem, a natureza e Deus. Incrível nas cenas que se cruzam entre os questionamentos das personagens e os movimentos físicos. Um tema complexo e por isso, de difícil compreensão, principalmente por propor reflexão sobre os limites entre religião e ciência, mas justamente por isso, riquíssimo para pensarmos sobre qual a razão da nossa existência e nossa posição como filhos dessa força maior, que nos rege, como sendo um pai severo que nos pune ou nos dá liberdade para interagir com a vida, respeitando limites e sofrendo conseqüências por nossas atitudes.

domingo, 9 de outubro de 2011

Salvando as crianças, salvando o futuro...

A infância “pública” precisa de ajuda! A infância “pública” precisa receber do governo seu melhor olhar. Aquele olhar como o que devemos ter em relação a nós mesmos: “amar ao próximo como a si mesmo”, mandamento de Deus. Amar o nosso futuro que são as crianças. As crianças já inseridas na rede assim como aquelas que estão sendo geradas e aquelas que já existem geradas no ventre das mães. As crianças merecem um presente que seja algo realmente significativo para o futuro.
No filme Kung Fu Panda tem a seguinte colocação: “ o hoje é uma dádiva por isso tem esse nome, presente”. Já na 2ª edição, tem o seguinte: “não importa o passado; e sim, o que somos e no que vamos nos tornar”.
A questão é: de onde estão vindo nossas crianças? Qual o presente como tempo que as gera e vai formá-las para um futuro em que o passado seja algo realmente significativo para o bem em suas vidas? Não devemos nos prender ao passado e deixar de viver, mas devemos sim tornar o tempo de vida das nossas crianças, o seu melhor significado. Famílias estão crescendo favorecidas com o paternalismo do governo, patrocinadas por ele. Crianças estão sendo geradas com o único interesse na manutenção e continuidade de benefícios sociais.
É um presente que não é dádiva na vida de ninguém. É um presente que formará um futuro desastroso principalmente no que abrange à educação pública. Não que o governo não deva olhar e assistenciar às famílias, mas constitucionalmente, as crianças têm direito a uma vida de qualidade. É preciso um olhar diferenciado sobre os benefícios de forma que os maiores beneficiados sejam as crianças. Que elas tenham o direito à vida, à alegria de viver, a uma boa formação física e mental, de forma que cognitivamente elas estejam aptas a viver e interagir com a vida no seu melhor significado.
Um organismo infantil que seja o seu melhor futuro. Que viva a infância e se torne adulto mais saudável, mais tranqüilo, sem tanta violência, sem tanta revolta. Que sorria, que brinque, que tenha energia física para estudar, para praticar esportes, para ler, para se tornar cidadão crítico e que seja para o país o seu melhor progresso. Que esteja presente na sala de aula disposto a construir sua aprendizagem com a compreensão do objetivo e significado que isso faz na sua própria existência.
“Se fracassarmos para instruir nossos filhos sobre justiça, religião e liberdade, estaremos condenando-os a um mundo sem virtude, a uma vida no acaso de uma civilização em que as grandes verdades terão sido esquecidas” (Presidente Ronald Reagan apud Willian e Martha Sears no livro “Crianças bem resolvidas”).
Enfim, salvemos o futuro, tornando a realidade das crianças o melhor presente!
27.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A educação pública pede socorro!

Inaceitável a situação da educação pública brasileira! Inaceitável a situação do suporte à educação pública! Crianças e jovens estão sozinhos nessa caminhada. Caminhada que precisa ser amparada pelo governo. Um governo que seja paternalista, mas como um bom “pai” que saiba limitar os desejos de seus filhos; e não, que estimule mais a pobreza e a dependência familiar em relação a benefícios sociais. Um governo que olhe realmente às necessidades dos seus “filhos”.
“Toda ação humana é potencialmente geradora de significados, potencialmente transcendente, mas apenas alguns poucos gestos têm a sorte de fazer a História, reservam seu lugar no futuro. A menos que você seja um professor(a). Neste caso, cada palavra dita, cada movimento do olhar tem seu lugar reservado no futuro do outro, do país, do mundo. Por bem e por mal”, por Wanderley Codo (coord. ) do livro “Educação: carinho e trabalho”.
Professores, educadores, orientadores, enfim, equipe escolar que se volta a um aluno e busca conduzi-lo ao melhor significado que deve ter na construção da sua vida. Por bem estamos nesse caminhada, mas como fazer isso se o governo não ampara os alunos com ajuda especializada para que a aprendizagem do conteúdo didático seja construída? Um aluno tem, sim, seu lugar na História e merece fazer parte dela com o seu melhor significado.
Quando inserido no ambiente escolar ele forma uma sala de aula. Essa por sua vez seria a perfeita se ele estivesse acompanhado só por alunos, física, mental e cognitivamente capazes. Seria ótimo trabalhar assim. Mas, a realidade não é essa. Cada um com a sua questão, com o seu organismo, exercendo e ocupando seu lugar na educação. Por isso, temos alunos com deficiência auditiva, que desistem de estudar por não terem condições de acompanhar a turma; temos alunos com deficiência fonoaudiológica que em 9 meses depois de iniciado o processo de construção da alfabetização não reconhecem a primeira vogal “a” ; temos alunos que insistentemente precisam de atenção porque se sentem inseguros psicologicamente para serem independentes uma vez que em casa o entorno lhes é algo perturbador; temos alunos que são violentos porque presenciam a violência doméstica diariamente em seu ambiente; ... .
Enfim, temos alunos que participam da História, e por bem ou por mal caminham. Enfim, temos o governo que participa da História e, infelizmente bem ou mal, exerce sua influencia. Influencia que deveria existir como sendo a melhor possível na vida dos nossos alunos. Aquela que seja aceitável. Aquela que realmente transforme e forme o futuro dos nossos alunos.
Dessa forma, cabe olhar aos nossos alunos com empatia, “einfühlung”, termo em alemão que significa, literalmente, “sentir dentro”. Ser empático é um estado de identificação mais profundo da personalidade em que o verdadeiro entendimento entre as pessoas pode ocorrer. Conseguir se identificar com o outro, sentir como se fosse o outro, imaginar como um aluno aprende, imaginar como um aluno aprenderia mais se enxergasse melhor, se escutasse melhor, se estivesse afetivamente mais calmo, ... .
Por bem à educação, os nossos alunos merecem ser salvos!

quinta-feira, 5 de maio de 2011

O outro

A necessidade do Outro na nossa vida é algo realmente interessante. Precisamos da outra pessoa mas ao mesmo tempo precisamos dar conta de estar sozinhos, como sozinhos mas não solitários. Por isso, homens e mulheres existem em relações, pois é a condição da perpetuação da espécie. E, justamente por isso, é um assunto que rende muito.
Existe um filme novo nas locadoras que chama “Você vai conhecer o homem dos seus sonhos” (You will meet a tall dark stranger), uma crônica de Woody Allen sobre o amor. Na crônica, todos estão à procura da pessoa certa. Um casal que se separa pois o marido deseja curtir a juventude perdida e se une à uma garota de programa a quem decide oferecer conforto material como uma tentativa de fugir da solitude. Esposa abandonada, por sua vez, recorre à uma cartomante buscando respostas e previsões futuras sobre a sua vida. A filha do casal, sustentada pela mãe, vive um casamento infeliz no qual o marido, um escritor fracassado, não é seu companheiro como deveria ser e dá abertura para que ela se envolva com o chefe, que também é uma pessoa inacessível ao que ela precisa. O marido, escritor, por sua vez, se apaixona pela vizinha em quem encontra a parceira que gostaria de ter. Já no filme “Pecados Íntimos”, cujo nome real é “little children” que traduzindo significa, criancinhas, os casais também apresentam dificuldades no encontro das necessidades alheias, em que vivem casamentos protocolares e acabam encontrando em outra pessoa, aquela questão que buscavam para se sentirem bem na interação com o outro.
Sendo assim, qual a razão para que as relações sejam tão complicadas? Por que homens e mulheres não encontram no casamento com seus parceiros, o que encontram fora dele? No filme “Pecados Íntimos”, Brad está desempregado e não consegue ser aprovado no exame para ser advogado, quando conhece Sarah (Kate Winslet), que acredita nele como homem e o incentiva nos aspectos que ele considera ruins na sua vida. Um se interessa pelo outro pois se encontram nessa questão, o despertar do que justamente estava escondido na relação do casamento.
No livro “homens que odeiam suas mulheres e as mulheres que os amam”, a Dra. Susan Forward, coloca o seguinte: “muitas pessoas hoje em dia sentem-se confusas sobre o que esperar e como se comportar num relacionamento. Os homens preocupam-se em ser carinhosos e sensíveis sem perder a masculinidade”. Já para Robin Norwood em “mulheres que amam demais”, muitas mulheres entram em relacionamentos sem antes estabelecerem um relacionamento verdadeiro em primeiro lugar com elas próprias.
Talvez a maior dificuldade nas relações seja a falta de encontro entre os parceiros. Parceiros que são adultos, mas que na verdade, muitas vezes são crianças grandes brincando de casamento sem ter definido o objetivo de uma relação conjugal na qual deveriam ser capazes de construir amor, sexo e amizade. Relações em que os parceiros tivessem condições de estar sozinhos nos momentos propícios a isso, cada um com suas atividades, mas no encontro da relação a fim de não viverem solitários numa união conjugal. O convívio que estimula e fortifica a intimidade, aquela construída a base do que se precisa. Ter liberdade e espaço para serem individuais como pessoas, mas unidos como parceiros dessa caminhada tão rica que se chama relação conjugal

sábado, 30 de abril de 2011

Manda quem pode...

A educação é uma das atividades necessárias ao desenvolvimento da espécie e assim, da construção do mundo, tendo um valor tão grande como questão fundamental à vida e que merece ser olhada e pensada da maneira mais criteriosa possível quando envolve os alunos, a equipe, escola, enfim todo universo que suporta essa função de educar. Educar não é um conto de fadas em que no final todos viverão felizes para sempre. Cada dia é um dia muito importante nessa construção e um tijolo colocado no lugar errado fará muita diferença.
Sendo assim, quem manda na educação? Para Humberto Gessinger , “toda forma de poder é uma forma de morrer por nada”. Que poder nós temos como educadores ao pensarmos a educação? Cabe dentro dessa questão tão nobre elevarmos tanto a nossa autoridade sem olharmos as reais necessidades dos nossos alunos? Qual o limite para nós, condutores dessa construção, ao nos depararmos com tanta carência afetiva e material? No livro “O pequeno príncipe”, Antoine de Saint-Exupéry faz a seguinte colocação: “É preciso exigir de cada um o que cada um pode dar. A autoridade se baseia na razão. Se ordenares a teu povo que ele se lance ao mar, todos se rebelarão. Eu tenho o direito de exigir obediência porque minhas ordens são razoáveis”.
Nós mandamos. Nós temos o poder de conduzir o rumo que queremos para o ano letivo de cada turma. É dado a cada membro da sociedade escolar esse poder. No entanto, deveríamos ter o grande poder de conduzir a construção da aprendizagem de uma forma sensata que respeite os limites dos nossos alunos, como do espaço de sala de aula e de toda a comunidade escolar envolvida. Mas, às vezes, esse poder passa do que é sensato e infelizmente, há o esquecimento da didática, da pedagogia, do juramento de comprometimento com a causa.
Um aluno, sua família, sua comunidade, enfim, todas as questões que o cercam e o formam como sujeito da educação, está presente na sala de aula e exerce com suas características uma influencia marcante em cada dia de interação. Por isso, o olhar dispensado a ele quando inserido na escola deveria ser aquele que situa o conjunto e o integra às possibilidades existentes à construção da sua aprendizagem; assim como, se existe dele a disposição para acompanhar o grupo.
Assumimos sim um compromisso. Atender a essa causa da educação tendo em vista suas necessidades e limites sabendo dos nossos próprios limites, sabendo dos limites das nossas atitudes. A realidade existe. Por vezes, há a construção de um planejamento tão rico e com uma expectativa positiva sobre a resposta da turma para seu desenvolvimento, e no entanto, a realidade que nos espera na hora da entrada é aquela que proporciona uma rápida reflexão do que se faz ali na frente de uma turma com uma história tão cruel de violência, abuso, fome, que ninguém em sua plena consciência gostaria de escutar. Mas é justamente aí que entra o nosso comprometimento. Pensar na realidade sem querer reformá-la a qualquer custo, ou passar por cima dos limites da realidade da comunidade escolar, por causa da nossa autoridade como pessoas mais esclarecidas. É nessa hora que entra a nossa razão como seres humanos. O que nos cabe fazer levando em consideração o nosso papel como educadores do mundo? Devemos escrever pelos nossos alunos ou ensina-los a escrever, auxiliando quando necessário, às vezes pegando em sua mão? Somos o exemplo, somos a autoridade que ensina e que exerce influencia. Somos atores num espetáculo em que a caminhada da vida, bem estruturada, é o objetivo e assim, a mensagem final.

terça-feira, 8 de março de 2011

VIVA! A nós, mulheres, educadoras.

(Gabriela P.B. Fernandes – educadora)
O Dia Internacional da Mulher é uma ótima oportunidade para lembrarmos do valor do trabalho que nós, professoras, educadoras do mundo, desenvolvemos diariamente no exercício da nossa profissão. É algo tão grandioso que, desde que feito com o real comprometimento assumido no juramento no dia da formatura do magistério, valeria o melhor salário que o sistema deveria pagar. Mas que na verdade, não há salário que pague o aprendizado adquirido com a interação num ambiente escolar.
Uma nova escola, uma nova turma, novos olhares, novas famílias, novas questões. É assim. Quando entramos em uma nova sala, o planejamento é sempre diferente, pois os alunos são outros, é uma realidade nova. Adaptamos nossa característica profissional às necessidades da nossa turma. É a nossa turma, aquela com a qual caminharemos por um ano letivo e pela qual temos o comprometimento com o conteúdo didático a ser construído. É a nossa turma, que se mostra aos poucos. São alunos. Meninos e meninas, crianças, adolescentes, adultos, cada um com sua questão, cada um com sua busca. Uns mais tranqüilos, outros mais ansiosos. Uns mais organizados, outros que, misteriosamente, sempre perdem o lápis e a borracha que você empresta. Mas a realidade de um ambiente escolar é muito flexível. Não existe a sala de aula perfeita, pois não existe a estrutura familiar perfeita. Há diferenças sim, cada comunidade tem sua característica. E uma boa educadora, é aquela que sabe se adaptar a essa condição.
A educadora, a unidade escolar e a comunidade só constroem uma educação de qualidade se caminharem juntas o caminho da educação. Um portão aberto que se fecha na hora certa colocando o limite que situa. Assim, há uma diferença muito grande entre a equipe pedagógica que, conhecendo a sua realidade social, recebe uma nova professora e coloca que um aluno precisa de limites e um posicionamento exigente, mas de afeto pois vive num mundo muito carente; e, aquela que diz que não se estabelece relação afetiva com aluno para que não haja perda de controle.
Ora, estar em uma escola, é olhar vários rostos e saber ver através dele. Entender que se o seu aluno tirou o sapato, ou melhor, a bota de plástico dentro de sala é, dando a chance dele se explicar, escutar que, estando sem meia, o pé estava queimando num dia mais quente; saber que uma touca que não pode ser tirada, pode estar escondendo uma infestação de bichos berne na cabeça de uma criança. Essa é a realidade da nossa educação. A realidade para qual uma educadora deveria estar muito bem preparada. Como construir a aprendizagem se a cabeça ou o pé queimam, se o estômago dói, se o cheiro de xixi na própria roupa é tão forte que incomoda os colegas e isso gera comentários? Fora o ambiente familiar, a estrutura fora da escola, a convivência em casa, o ambiente, enfim, a realidade desse aluno. É triste, pensarmos que planejamos todo nosso trabalho esperando resultados positivos mas que nos deparamos com obstáculos tão grotescos que nunca desejaríamos escutar. No entanto, a tristeza existe exatamente pelo desejo de que nossos alunos sejam muito mais do que aquilo que a realidade lhes impõe. E justamente aí entra o nosso valor como educadoras. O olhar feminino, aquele que acolhe com carinho, aquele que olha com afeto essas questões. O caminho que construímos com a caminhada. Essas pedras que retiramos e que passamos a conhecer, nas quais não podemos pisar. Um portão aberto a esses alunos, a suas mães e familiares.
Cada comunidade com sua característica. Uma que leva suas crianças à unidade alcoolizada e assim as sustenta em casa, para enganar a fome. Outras que mesmo carentes participam da unidade escolar por essa estar sempre com os portões abertos receptivos à ela. Outra que evade da escola por não receber o limite que situa nem a atenção que precisa para construir sua identidade como comunidade.
Sendo assim, qual é o nosso real juramento como educadoras? Devemos ter tantos limites afetivos no contato com nossos alunos ou nos abaixar a sua altura para olhar em seus olhos a fim de conhecer seu verdadeiro rosto?
Educar é uma tarefa nobre! Merecia, sim, ser a profissão mais valorizada. Merecia, sim, o melhor salário. Mas, merece muito mais do que isso. Merece as nossas mãos. Merece saber dizer a um aluno que existe uma troca satisfatória de aprendizado com o conhecimento que adquirimos com ele. Merece das nossas mãos os melhores gestos. Merece das mãos de quem tem o poder de um sistema, o melhor olhar. O olhar que enxerga a profissão e o local de trabalho como a base da estruturação social de um mundo. Existe um mundo tão vasto no universo escolar!
Dessa forma, sejamos educadoras com olhar! Com amor, com afeto, com limites e, acima de tudo, com compromisso ao que fazemos. Mulheres dotadas de emoção. Mulheres que são gente! Mulheres que dão à vida novas vidas e que com esse olhar saibam ver os filhos gerados por outras mulheres como nossos, assim como sabendo dos próprios limites, sejam capazes de exercer o que Jesus nos pediu: “amar ao próximo como a si mesmo”.