quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Viva! À Escola São Judas Tadeu.

Gabriela Pujol Bell Fernandes – educadora).

“Ora, é lógico... numa escola assim vai ser fácil estudar, trabalhar, crescer, fazer amigos, educar-se, ser feliz.” (Paulo Freire). Exatamente assim é a escola citada no título. É sobre a educação construída no bairro Mosela, pelos alunos e toda equipe que compõe essa unidade da rede pública de ensino, que as palavras tomarão sentido neste artigo.
A escola São Judas Tadeu é uma escola, como definiu a diretora, Mônica Chung, que estará sempre com as portas abertas à toda contribuição positiva que vier da comunidade. Não só da comunidade, mas de toda equipe. Além das disciplinas como português, matemática, ... , há o desenvolvimento de atividades como aula de xadrez e música, sala de leitura e biblioteca. Atividades que enriquecem e muito o desempenho dos alunos.
Essas atividades são oferecidas e desenvolvidas pelos profissionais formadores da escola que acreditam que transformam vidas e gerações. Transformam pois estimulam o organismo de um aluno como um todo. Transformam pois cada aluno tem suas características e essas atividades proporcionam o desenvolvimento de diferentes áreas do cérebro, assim como amplia o conhecimento dos alunos em relação à sua própria existência. Saber ler bem e assim construir bons textos, além de formar opiniões; desenvolver o gosto pela música, e até mesmo, decidir se gosta ou não de cantar e participar do coral; assim como o xadrez que proporciona a concentração, estimula o raciocínio. Tudo isso, transforma pois quando se entra na escola, é fácil perceber o comprometimento com a causa escolar e a responsabilidade com o que se prega.
Dessa forma, é essa escola. As portas abertas que nos convidam a entrar pois sabemos que lá dentro existe o que buscamos para construção de nossa própria existência, pois se mantém viva, a crença que há possibilidade de crescimento com a interação simplesmente por estar lá, por fazer parte do grupo, por interagir no meio escolar. “Sendo assim: educar-se na escola! Obter conhecimento na escola! Crescer na escola! Ser formado na verdadeira cidadania.”(Paulo Freire).
Por isso, no dia 21 de setembro deste ano, a escola deu início à mais uma atividade. Complementou seu compromisso com a educação, com aulas de reforço escolar gratuitas aos alunos. Neste ano, refiz à Mônica, uma oferta antiga de trabalhar voluntariamente com reforço escolar. Esse trabalho era desenvolvido na comunidade do Quarteirão Brasileiro, principalmente aos alunos da Escola Paroquial Nossa Senhora das Graças, no salão paroquial, cedido pela igreja. Havia uma parceria com as professoras e a escola para que houvesse a assistência aos alunos, inclusive com o fornecimento de datas, conteúdos e questões relacionadas à aprendizagem. No entanto, em fevereiro deste ano, a comunidade, alegando serem necessárias obras no salão, não permitiu mais as aulas. E, assim, perdeu um trabalho que acrescentava demais à construção da aprendizagem, pois o reforço escolar era feito através da fixação das disciplinas e de atividades lúdicas como jogos e passatempos.
Então, há quase 3 meses, iniciamos na Mosela, uma parceria com o trabalho voluntário de reforço escolar aos alunos. Essa atividade é desenvolvida no salão da igreja, até que, como disse a diretora, haja uma sala disponível só para essas aulas. Mesmo assim, há condições de atender aos alunos no espaço cedido. Quando essa idéia surgiu, a escola se organizou, a equipe pedagógica, através do contato com professores e responsáveis, formou os grupos para os dois turnos, com o apoio de outra professora, buscando atender aqueles que mais precisavam e dessa forma, em quatro dias de aulas por semana, a melhora na construção da aprendizagem pelos alunos assistidos, já foi percebida.
Não que não existam questões, que exigem mais atenção, como em outras escolas, mas quando se transmite limite, há confiança de que há preocupação. De que há um olhar que se importa, que quer ver um sorriso onde há tristeza, solidão, desamparo; onde há necessidades. Necessidades como de um dos alunos que chegou à aula de reforço com dificuldades em matemática e que transmitiu naquela primeira aula o quanto precisava apenas ser atendido. Apenas ter um olhar voltado a ele mesmo que por instantes em que uma hora é dividida por mais alunos também com dificuldades. E, então, nesses três meses, construindo a confiança que lhe é precisa para operar a tabuada e assim, o conhecimento necessário para efetuar as contas de matemáticas, já caminha sozinho, apesar de ainda tropeçar em algumas pedras do caminho, e em outras apenas para que lhe seja estendida a mão no afeto que precisa para se levantar com a segurança de que não existe solitário nesse mundo, mas existe sim, na sua particularidade como ser humano.
Dessa forma, cada dia é um dia de valiosa importância na vida de cada ser humano, principalmente, de nossos alunos. É com a consciência voltada na influencia mais que positiva exercida por todas as atividades desenvolvidas, que a Escola São Judas Tadeu existe e cresce cada vez mais pois se acredita parte integrante fundamental na construção da existência humana.
Sejamos sempre, assim, profissionais comprometidos com a causa da educação, mantendo abertas as portas pelas quais passam nossos alunos esperando ser recebidos pelo conhecimento que lhes influencia e dá sentido a si como ser vivo e humano, e parte integrante fundamental à vida.

Artigo publicado na Tribuna de Petrópolis – 18/11/2010

domingo, 17 de outubro de 2010

A política como circo

Gabriela Pujol Bell Fernandes – educadora).

As eleições vão ao encontro do que o povo escolhe. Escolhas que são de extrema importância para o futuro de uma nação e que refletem exatamente como o povo pensa e vê a causa pública. Justamente por isso é que elegeu o palhaço Tiririca para representá-lo. Infelizmente elege-lo pode significar exatamente como o povo vê a política no nosso país, talvez como um grande circo.
Um circo no qual o povo, como público, assiste aos espetáculos dos atores principais, os políticos, como uma verdadeira comédia em que não existe nenhuma verdade no que se faz. No entanto, esse grande espetáculo político, que acontece no nosso país, em nenhum momento foi representado por cidadãos vestidos como palhaço e usando nariz de palhaço. Por isso, eleger o candidato Tiririca talvez tenha sido a forma escolhida, pelo povo, para caracterizar verdadeiramente a política que acontece diante dos nossos olhos.
Essa política que muitas vezes nos aparece totalmente descomprometida com a causa pública. Os números que elegeram esse candidato, que pode ser cassado por ser analfabeto, refletem que, o povo, mesmo assistindo à sua propaganda eleitoral, em que ele foi questionado sobre o que faz um deputado e respondeu que quando chegasse lá, descobriria, pode ter acreditado nessa fala como uma verdadeira piada de palhaço num espetáculo do circo.
Sendo assim, quem está mais descomprometido com a causa pública? Um candidato, que para representar o povo, o faz como palhaço; o povo que não discerne sobre quem vai representa-lo, ou os políticos atuantes que representam o país e permitem os grandes espetáculos escandalosos com a imagem pública e, com isso, influenciam o povo a não acreditar mais na política como algo extremamente importante à construção da cidadania e assim, manutenção da vida?
Pensar na eleição, usando como exemplo o candidato citado acima, é ir ao encontro do que aconteceu aqui em Petrópolis, em que candidatos muitas vezes já eleitos em nossa cidade não tiveram votos satisfatórios, pois talvez já estejam fora do alcance do que o povo precisa. Isso nos leva ao questionamento sobre o que se faz com a causa pública. Qual a imagem que se quer formar? Para o filósofo Nietzsche, “para o espetáculo da vida entreter, é importante que seja representado. Para isso, são necessários bons atores”. Por isso, é pertinente a necessidade dessa representação pública, ser sim, verdadeira. Ir ao encontro do que o povo necessita. Quando um candidato se preocupa com a sua imagem no sentido de construí-la a fim de que transmita ao Outro, confiança de que será capaz de proporcionar uma interação que vai ao encontro das necessidades, está apto a si aprimorar muito no verdadeiro sentido da política.
Sendo assim, candidatos como Tiririca que precisam de personagens para dar vida à sua carreira pública e política no país, representando o povo, teriam uma interação melhor se usassem como tema principal de seu espetáculo, o que vai ao encontro do que o povo precisa, pois assim, tornariam o grande palco de circo em que se transformou, infelizmente, a política brasileira, num grande espetáculo.
Dessa forma, sejamos todos, políticos verdadeiros na representação da vida, a fim de que o espetáculo seja muito bem representado e aceito pela platéia que o assiste, pois tudo aquilo que é bem construído, com bases fortes e seguras, tende a estar firme no maior propósito que é a vida. Piadas são facilmente esquecidas pois num primeiro momento podem ir ao encontro de questões pertinentes ao cotidiano, no entanto, não se encontram com o que se precisa. O que se fixa no cérebro humano, é o conhecimento que desestrutura para estruturar o que precisa ser apreendido, como propôs Jean Piaget, assim como Vygotsky e todos outros com suas teorias sobre educação, principalmente ligadas à construção baseada na interação de quem aprende com o que se é aprendido.

Artigo publicado na Tribuna de Petrópolis em 14.10.2010

O mal da humanidade

(Gabriela Pujol Bell Fernandes – educadora)

A humanidade, o conjunto de homens, existe porque há a necessidade da vida. Existe nas relações dentro da necessidade de manutenção da sua própria existência e da existência de outras espécies em total dependência. Essas relações acontecem de acordo com as disposições de cada ser sobre aquilo que se busca. Por isso, os homens se relacionam da forma como melhor sabem fazer. E, é justamente sobre essa forma de se relacionar com o Outro, que Freud afirmou ser o mal da humanidade, a falta de afeto.
Em suas teorias psicanalíticas ele mostra que transferimos às relações nossos desejos. Buscamos o Outro e, no Outro, aquilo que precisamos para dar sentido e consagrar a nossa existência. Desde que somos concebidos existimos num meio social no qual nos constituímos sujeitos, e recebemos o que esse meio pode nos fornecer, crescendo assim, de acordo com essa estruturação física, psíquica e social.
Apreendemos o mundo através da nossa família e nos baseamos no contato com eles, como o exemplo de criança, jovens e adultos que seremos na vida. Por isso, pensar na colocação de Freud sobre o afeto é ir ao encontro de questões sobre as relações humanas serem boas ou ruins, complicadas ou saudáveis, e assim como cada um caracteriza a convivência com o Outro.
Dentro dessa perspectiva, vale o questionamento sobre como conduzimos a nossa vida. Temos afeto com aqueles que fazem parte da nossa caminhada? O que é ser afetuoso e transformar assim as nossas relações sociais?
O afeto é algo tão nobre quando se tem na mente o desejo de querer o bem e estar bem. Não é fácil, principalmente quando se cresce em um ambiente tão hostil sem qualquer palavra, gesto ou atitude que signifique confiança, apoio, respeito, enfim, o que representa o gostar, o querer estar próximo, o perceber a outra pessoa nas suas características e possibilidades.
Na perspectiva freudiana sobre esse assunto, a primeira relação, mais importante na vida de qualquer pessoa, é com a mãe. A pessoa que desde o início fornece e dá sustento à primeira necessidade que é a vida. Quando nasce, a forma como é amamentada e assim, desenvolve-se recebendo os cuidados com higiene, acalentada quando sente frio, dor, desamparo, cresce e assim, recebe afeto das pessoas da família como propôs Freud (1974) com a “Teoria da Transferência”, “as crianças até os seis anos de idade firmaram-se nas suas relações com as pessoas do mesmo sexo e do sexo oposto, achando-se mais ligada pelos pais, irmãs e irmãos. Um rapazinho está fadado a amar e a admirar o pai, que lhe parece ser a mais poderosa, bondosa e sábia criatura do mundo. Na segunda metade da infância, dá-se uma mudança na relação do menino com o pai – mudança cuja importância não pode ser exagerada. Descobre que o pai não é mais o poderoso, o sábio e rico dos seres; É nessa fase do desenvolvimento de um jovem que ele entra em contato com os professores, de maneira que agora podemos entender a nossa relação com eles. Transferimos para eles o respeito e as expectativas ligadas ao pai onisciente de nossa infância e depois começamos a tratá-los como tratávamos nossos pais em casa”.
Não só trataremos assim os professores, mas todas as outras pessoas e dessa forma, nos relacionaremos com o mundo. No livro “Mulheres que amam demais”, Robin Norwood coloca essa questão da seguinte forma: “existem vários tipos de famílias desajustadas, como famílias de alcoólatras, famílias violentas ou incestuosas, mas todas apresentam um efeito comum em crianças que nelas crescem: são crianças prejudicadas, até certo ponto, em sua capacidade de sentir e relacionar-se. Muitas vezes nos surpreendemos fazendo coisas que nossos pais faziam, as mesmas atitudes que prometemos a nós mesmos nunca ter. Isso ocorre porque aprendemos através de suas atitudes e até de seus sentimentos, o que é ser homem ou mulher”.
Sendo assim, ser afetuoso todo dia. Entender que não se pode mudar o passado, mas o futuro precisa ser diferente e temos condições de iniciar essa mudança hoje, no presente das nossas relações, construindo relacionamentos mais afetuosos, com mais demonstração de carinho, confiança, respeito, gestos que dão validade ao que o Outro nos mostra. Por vezes, temos perto de nós situações que realmente não precisariam acontecer então, sendo afetuosos com nossas próprias necessidades, respeitando as escolhas que formam nossa vida, saibamos transformar o mundo, que nos cerca e do qual somos tão dependentes, em um lugar mais pacífico e harmonioso.

Artigo publicado na Tribuna de Petrópolis – 4/10/10

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Quem são os políticos?
Gabriela Pujol Bell Fernandes – educadora).

Candidatos ao cargo público, homens comuns, formados na cidadania como a população, mas interessados em representar a mesma, sendo que, de acordo com o relacionamento que mantêm com as suas convicções e estrutura de vida. “Tenho 30 anos e estou iniciando a minha carreira política, se eu não me comprometer com isso...”, essa afirmação é de um candidato, em uma conversa informal durante uma manifestação de campanha.
Um político como os outros que pretende dar significado à sua vida política e que precisa da confiança do eleitor, para alcançar seu objetivo. Não venho, por meio deste, defendê-lo por causa de uma simples declaração, mas pensar na questão do que é mais importante quando nos relacionamos com as causas públicas. Para isso, as idéias de Nietzsche em “Assim falou Zaratustra” fundamentarão este artigo.
“Deve construir algo que lhe seja superior. Antes de tudo, porém, é necessário que se construa a si mesmo”, essa afirmação de Nietzsche explica que para que haja o entendimento das necessidades alheias, precisamos estar em primeiro lugar, conscientes das nossas questões. Assim conseguiremos ter atitudes que num primeiro momento representam desejo individual de crescimento mas que, transformam a realidade na qual os gestos estão acontecendo.
É assim que deveriam ser construídas as relações humanas, com comprometimento. Comprometimento com as questões particulares e, principalmente com as questões sociais. Um político que entende a sua carreira como degrau para construir a si próprio, deveria pensar mais claramente que para ter êxito precisa de uma boa representação. Voltemos a Nietzsche, “para o espetáculo da vida entreter, é importante que seja representado. Para isso, são necessários bons atores”. Quando os homens conseguem entender que a cada minuto é tempo para uma atitude positiva em relação às condições necessárias à vida, eles estão indo de encontro ao que há de mais nobre na manutenção da existência, a busca e a interação com o Outro. ”Em você também ainda há de ressoar a voz da multidão. E você pertenceu à multidão durante muito tempo. Pode proporcionar a você mesmo seu bem e seu mal e retardar a sua vontade por cima de você como uma lei? Pode ser o seu próprio juiz e vingador da sua lei?. O pior inimigo, todavia, que pode encontrar , é você mesmo.”, assim Nietzsche continua a ensinar.
Dessa forma, ao nos comprometermos com as causas políticas, cidadãos e políticos, que somos, estamos nos relacionando em primeiro lugar com as nossas causas, e assim, diante de uma consciência de cidadania, mas acima de tudo, de amor e respeito ao próximo, transformamos a nós mesmos. “É necessário aprender a amar-se a si próprio com amor sadio, a fim de aprender a suportar-se a si mesmo. E não é um mandamento para hoje nem para amanhã este de aprender a amar-se a si mesmo. É, pelo contrário, a mais delicada, a mais apurada, a última e a mais paciente de todas as artes”, Nietzsche.
Por isso, a causa pública deve ser olhada com o mesmo comprometimento com o qual mantemos a nossa vida. Sejamos nossos melhores amigos, juízes, e assim, construtores sábios da nossa própria existência. Saibamos amar as causas sociais com o amor com que amamos a nós mesmos. E, então, conseguiremos com que o mundo seja um lugar acolhedor pois seremos cidadãos mais criativos na interação com as questões comuns, justamente por desejarmos atuar e representar nosso melhor papel a fim de que a platéia nos aplauda e quem sabe, continue aplaudindo para que estejamos novamente em cena.
Artigo publicado na Tribuna de Petrópolis – 2/09/2010

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Agredir significa: perda de conexão.
(Gabriela Pujol Bell Fernandes – educadora).

Bater, agredir, dar palmada ou pancadas, ou seja, nesse caso, qualquer atitude que sirva como pretexto na educação do Outro, seja ele, uma criança, um jovem ou um adulto, é uma atividade que representa nada mais do que a falta de condições do agressor em resolver conflitos ou mesmo se relacionar com aquele para quem deveria ser direcionado o respeito e afeto.
Por isso, essa questão sobre a lei que proíbe a palmada no caso das crianças, levanta muitos questionamentos sobre o que é mais importante quando se educa. Do que precisa o Outro para ser educado?
Para Freud, psicanalista, o mal da humanidade está na falta de afeto. Sendo assim, que tipo de afeto existe em uma agressão? Como justificar que para que exista a obediência, seja necessário machucar o Outro, esse que pode ser uma criança ou um adolescente, e essa questão se estende a todo tipo de agressão quando esta ocorre sempre que há uma divergência de opiniões, em que o agressor sempre se considera a parte mais forte.
Para Willian e Martha Sears em “Crianças bem resolvidas”, a autoridade tem que ser conquistada, mesmo quando você é um adulto feito e seu filho um recém-nascido de quatro quilos. As crianças não pensam como adultos. Seu método de criação vai ser mais tranqüilo se você aprender a tolerar comportamentos que acompanham a idade e o estágio de uma criança. A criação por apego ensina seus filhos a respeitar você porque você conhece as necessidades deles e os respeita”.
Quando um pai conhece o filho que tem, pois desde que esse é concebido, é visto como um ser que necessita do adulto para crescer e constituir-se como ser humano, ama a sua missão de educador e consegue com que, sentindo-se aceito e amparado essa criança, esteja conectada às regras e obediência baseada no entendimento das questões que são necessárias. No livro “O pequeno príncipe” de Saint-Exupéry, o general coloca o seguinte: “é preciso exigir de cada um o que cada um pode dar. A autoridade se baseia na razão. Se ordenares a teu povo que ele se lance ao mar, todos se rebelarão. Eu tenho o direito de exigir obediência porque minhas ordens são razoáveis”.
A razão. Nada mais do que a razão. Uma criança, um ser que precisa ser educado entende o que precisa ser feito se as ordens são claras e objetivas. “Quando você corrige o comportamento errado de seu filho, seu objetivo deve ser faze-lo se dar conta do que faz de errado, e o que deve fazer para retificá-lo. Não o deixe arrasado, faça-o saber que você sabe que ele é capaz de fazer melhor – e, então, ajude-o a não cometer o mesmo erro novamente”, explicam William e Martha Sears.
No caso daquelas palmadinhas na mão quando a criança usou a mesma para pegar ou tocar algo que não deveria, é preciso lembrar que crianças constroem sua aprendizagem de uma forma mais bem estruturada quando experimentam aquilo que precisam e, tocando o objeto que querem conhecer, elas estão assim, descobrindo texturas, formas, enfim, conhecendo o que se quer conhecer. Ora, uma criança está em fase de desenvolvimento e não tem capacidade para distinguir o que deve ou não ser tocado, a não ser que o adulto responsável pela sua educação lhe ensine, mas agredir por experimentar é tirar de um ser, em formação, a vontade de conhecer e explorar coisas novas na vida, pois este temerá sentir sempre a mesma dor; é transmitir-lhe assim, a ideia de que construir a sua vida e existência é algo muito perigoso e pode ser extremamente doloroso;
No livro “Nunca desista dos seus sonhos”, Augusto Cury coloca que “Epicuro acreditava ‘que os grandes navegadores deviam sua reputação aos temporais e às tempestades”. Grandes navegadores, grandes escritores, grandes sonhadores, grandes naquilo que escolherem, enfim, grandes seres humanos que acreditam em suas próprias capacidades e vêem a vida como um lugar acolhedor e possível de ser experimentado.
Dessa forma, quando amamos nossas crianças e transmitimos, à elas, disciplina com amor por desejarmos que sejam adultos muito bem-sucedidos, corajosos, determinados, felizes, capazes de caminhar mesmo que, vivendo a vida com obstáculos, estamos deixando a mais rica herança.

Artigo publicado no Diário de Petrópolis – 24/08/2010.
E o comprometimento com a educação...

Agora é oficial. Divulgado o calendário de reposição das aulas perdidas com a greve dos servidores da educação, torna-se mais clara a situação da conseqüência dessa movimentação pela cidadania. E então, surge novamente a questão sobre o que é mais importante no ato de educar. Haverá a reposição, mas esta será mais no papel oficial dos documentos como as pautas de cada turma ou no papel do caderno dos alunos?
A movimentação de greve é um ato social. De acordo com a definição do dicionário Larousse, greve significa “parada coletiva, voluntária ou coletiva, do trabalho ou do estudo, para obter o atendimento de reivindicações”. Fisicamente, toda vez em que um corpo muda a sua posição ocorre um movimento. Sendo assim, para que serviu o movimento de greve?
De um lado, os servidores estavam no direito de parar, mas, e os alunos, tinham o direito de ficar parados? Agora com a reposição aos sábados, os alunos têm o dever de estar na escola, no entanto, sem qualidade do ensino que receberiam nos dias letivos normais de 2ª a 6ª feira, pois é fato que se houver um número pequenos de alunos em sala não há condições de iniciar conteúdo novo.
As escolas, que cumprem o calendário, precisam estar abertas e é preciso que os servidores estejam à disposição dos alunos que quiserem participar desse momento escolar aos sábados e nas duas segundas-feiras que antecedem os feriados em setembro e outubro. Em reportagem à Tribuna de Petrópolis, publicada dia 13 de agosto, Yuri Moura, presidente da União Estadual dos Estudantes, afirmou o seguinte: “sabemos que aulas aos sábados nem sempre dão certo, mas não há outro jeito. A nossa posição era que os estudantes não perdessem o ano letivo. Se foi esta a decisão dos professores e governo, temos agora que apoiar e fazer campanha junto com os alunos para que o calendário seja realmente cumprido”.
Cabe, sim, aos alunos prestar atenção ao cumprimento do calendário, mas pensando em cidadãos que eles são, batalharão, dessa forma, pelo direito de terem aulas, mas será que a comunidade escolar lhes oferece esse espaço para exercerem a cidadania? A educação, numa proposta construtivista, é aquela que fornece ao aluno a participação no que aprende, assim ele constrói o conhecimento. Sendo que, essa construção só é possível se houver espaço. Esse aluno precisa estar conectado ao sistema e à comunidade escolar, numa espécie de troca, pois só assim estará motivado a freqüentar as aulas.
A escola pública não tem capacidade para ter tanto comprometimento com a causa da educação como a escola particular? Ano passado, com a paralisação por causa da gripe suína, houve a reposição aos sábados em escolas particulares que tiveram índice de freqüência beirando os 100%. Já, esse ano, em 14 de agosto, no primeiro sábado de reposição nas escolas públicas, por causa da greve dos servidores, algumas escolas que deveriam estar abertas aos alunos, receberam em seu espaço físico a campanha de vacinação contra Poliomelite. Ou seja, o calendário da vacinação, que é nacional, não foi examinado para que houvesse a construção do calendário de reposição?
Sendo assim, alunos e servidores têm direitos mas também são cidadãos por terem deveres, e infelizmente, nessa situação de greve em Petrópolis perdeu-se a manutenção dessa questão tão nobre chamada Cidadania.
Artigo publicado na Tribuna de Petrópolis – 18/08/2010

Cultivar a educação.

(Gabriela Pujol Bell Fernandes – educadora).

Ao bom desenvolvimento do ser humano é que se destina a educação existente nas relações sociais e nas questões que fazem parte da construção da vida. O ser humano acontece na vida porque precisa ser. Ele é um membro do universo e, para exercer suas funções como elemento necessário ao desenvolvimento da sua própria existência e das interações que se fazem importantes ao caminhar, precisa crescer como ser vivo.
“ O homem existe como ser que deve ser educado”, assim pensa Charles Hadji em “Pensar e Agir a Educação”. Mas que educação é essa? Como educar o ser humano? Ele precisa se desenvolver e é necessário que esteja ciente dessa necessidade. Desde que é concebido existe dentro da necessidade que é viver, manter-se estruturado como organismo vivo no mundo da vida. Precisa da educação. Precisa entender-se como sujeito e para isso, precisa de autonomia para construir sua própria existência.
Então, o ser humano, como ser vivo e principalmente na infância, precisa do Outro que exercerá essa função de educador. É como cultivar jardins como descreveu William e Martha Sears em “Crianças bem resolvidas”, “ um pai sábio é como um jardineiro. O jardineiro não pode controlar as características das plantas do jardim – coisas como a cor – mas pode retirar ervas daninhas, podar a planta e fertilizá-la para que desabroche de forma mais bela. Anos de modelagem ajudam as crianças a construir autocontrole, a aptidão para fazer suas próprias escolhas sábias”.
Por isso, toda criança nasce no meio social e tem, exceto em casos patológicos, capacidades como outras crianças. Precisa de um sistema que lhe permita o desenvolvimento, e esse é aquele que acredita ser a infância a base de um adulto capaz, livre, saudável, bem desenvolvido, aberto à construção da sua vida. “Se a criança é o futuro do homem, não se pode mais pensar a educação como controle social e transmissão de valores adultos. A educação só é possível, na medida em que o sujeito for modificável; precisamos saber se o indivíduo não está fechado em alguma barreira inexorável de ordem biológica ou psicológica”, assim escreveu Charles Hadji no mesmo livro.
Em que sistema de educação estamos inserindo nossos alunos? Proporcionamos às crianças crescimento capaz de se tornarem adultos bem desenvolvidos? “Assim a verdade está no limite da educação, sabendo-se que esta não pode determinar um fim. O homem é o futuro do homem”, afirma Charles Hadji.
Educar para o verdadeiro desenvolvimento. Sabendo que cada flor, cada planta precisa do seu próprio espaço; tem suas necessidades, suas características, assim como suas limitações. Cultivar todas no limite do espaço à elas cedido como jardim, mas observar o crescimento, compreendendo a contribuição que cada uma oferece.
Artigo publicado na Tribuna de Petrópolis – 11/08/2010.

É uma questão de educação.

(Gabriela Pujol Bell Fernandes – educadora).
A educação que vem de casa. A educação que vem da rua. A educação que vem da escola. A educação de que se serve o ser humano para ser humano, sociável, um bom cidadão, educado e consciente dos seus deveres. Sendo assim, a cidadania é uma questão de educação. Principalmente em época de eleições, em época de mudanças nas figuras de poder que exercem os cargos superiores em relação à sociedade. Como representar a sociedade? Quem é mais importante, o representante político ou a classe cidadã chamado de povo? O político também é um cidadão. O cidadão também é um político.
Para o filósofo Immanuel Kant, segundo Lilliana e Michele Iacocca no livro “O que fazer? Falando de convivência”, “o homem é responsável pelos seus atos e tem consciência do seu dever”. Todos nós somos responsáveis pelos nossos atos principalmente porque de acordo com as leis divinas somos seres humanos dotados do livre arbítrio como coloca tão bem o apóstolo Paulo: “tudo posso mas nem tudo me convém”. Por isso, o que nos convém como cidadãos?
Para Aristóteles, no mesmo livro citado, “o homem bom deve ser um bom cidadão”. Então, queremos que os nossos representantes estejam lá tendo consciência das suas reais obrigações na hora de fazer política e decidir pela sociedade sobre o que lhe é mais certo. No entanto, se um político deve ser um bom cidadão, ele tem seus direitos em escolher mas precisa do dever de fazer a coisa certa pois na representação do povo, a posição que ocupa é o lugar para ele fazer isso.
Sendo assim, o cidadão precisa da educação que venha de algum lugar, mas que venha a lhe trazer a capacidade de questionar o que é ser cidadão. De acordo com Marilena Chauí em “Convite à Filosofia”, em nossa sociedade é muito difícil despertar nas pessoas o desejo de buscar a verdade, pois todo mundo acredita que está recebendo de modos variados e diferentes, informações verdadeiras”. Por isso, para que saibamos como ser verdadeiros cidadãos, políticos nas nossas relações, precisamos estar voltados à busca do que realmente tem valor. Um político tem o poder de criar leis e assim, teria como poder supremo a autoridade das escolhas, mas o cidadão é quem precisa das questões assistidas por um político, então, dessa forma, Nietzsche em Assim Falou Zaratustra, coloca que, “amo o que vive para discernir, e que quer conhecer, a fim de que um dia viva o super-homem, porque assim quer o seu desfecho”.
Seria assim, aquele que questiona, um homem bom como pensou Aristóteles e um homem responsável pelo seu dever como para Kant?
De qualquer forma, ser cidadão bem educado é ter consciência do poder que tem suas escolhas, principalmente quando essas são bem fundamentadas e assertivas. Viva a política! Viva a oportunidade de escolha dada ao ser humano para optar por uma convivência social mais bem organizada.
Artigo publicado no Diário de Petrópolis – 18/08/2010
O poder das eleições.
(Gabriela Pujol Bell Fernandes – educadora).

É época de eleição. É época também dos panfletos e jornais que enchem as caixas de cartas e também são distribuídos nas ruas, acabam parando na mão dos eleitores que às vezes lêem, às vezes jogam no lixo ou na rua. Sem falar das placas; assim como os carros de som que circulam com propaganda à base de repetição. Tudo isso para auxiliar os eleitores a escolherem seus candidatos. É uma questão de educação pública e social. Onde entra a construção do conhecimento do cidadão eleitor sobre a capacidade política de um candidato? Será que toda essa campanha alcança seu objetivo?
Os políticos têm um poder imenso sobre a população de seu município ou região. São eleitos pelo povo que confiou neles. Para Paul Strathern em “Foucault em 90 minutos”, “Foucault reconhecia que o mais importante aspecto do poder estava nas relações sociais. O poder estava também envolvido na produção e uso do saber”. Por isso, a interação com o eleitor que visa o real entendimento daquilo que lhe é necessário demonstra o poder existente de um político interessado na sua comunidade, pois expressa a exata função dos cargos políticos, a representação do povo.
A campanha é válida para que surjam, ao eleitor, as possibilidades de escolha. No entanto, uma boa construção de conhecimento se dá pela vivência e entendimento daquilo que se quer apreender, como propôs Foucault, no mesmo livro citado, “ o conhecimento sempre tinha um propósito: era caracterizado por uma vontade de dominar ou apropriar. O conhecimento era buscado por sua utilidade: era potente e instável”.
Dessa forma, o conhecimento sobre os candidatos contido na propaganda é válido se o eleitor tiver como entende-lo para que não aconteça como o grupo Engenheiros do Havaí canta em “toda forma de poder” , “eu presto atenção no que eles dizem, mas eles não dizem nada. O fascínio é fascinante; deixa a gente ignorante fascinada e é fácil ir adiante e esquecer que a coisa toda está errada”.
O eleitor, nesse caso, está longe de ser ignorante, pois conhece muito bem suas questões sociais, mas precisaria de uma educação conscientizadora melhor no sentido de escolher o candidato que consegue estabelecer com ele, um vínculo entre as suas necessidades e as verdadeiras intenções para supri-las.
Por isso, voltemos a Paul Strathern, “Foucault delineia as transformações do poder que ocorreram com as modificações do conhecimento. Como esperamos compreender as transformações de poder e na estrutura da sociedade sem ter explorado muito dos seus aspectos mais relevantes?”.
Sendo assim, muito bem educados social e politicamente seriam o candidato e o eleitor que estivessem em comum acordo sobre o que realmente esperam de uma mudança no poder que têm em suas posições como cidadãos. Os direitos de escolher e ser escolhido, mas mais importante, o dever de escolher bem e ser altamente capacitado para se candidatar à escolha.

Artigo publicado na Tribuna de Petrópolis – 24/08/2010

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Cidadãos! Acordados ou sonhando, veremos nossa Petrópolis parar?

(Gabriela P. B. Fernandes – profª)


A atual situação em relação à educação e saúde de Petrópolis, me fez lembrar, como educadora, mãe de aluno de escola pública, petropolitana, mas principalmente como cidadã, em composições de dois brasileiros que tão bem já representaram através de suas ideias, questionamentos sobre o nosso cotidiano. Raul Seixas havia pensado sobre o dia em que o sistema para por não haver mais razões ao seu caminhar, e Paulo Freire descreveu a escola como ela realmente é.
Acompanhando as questões dos servidores como dos representantes do governo municipal, que justificam suas atitudes perante a movimentação de greve, não venho defender nenhum dos dois, mas coloco-me a pensar sobre a fragilidade na qual estamos inseridos vivendo globalizados mas enfrentando já há mais de 10 dias as mudanças ocorridas por conta do que se chama CIDADANIA.
Todos nós, cidadãos, apreendemos na escola os conceitos necessários sobre relações de espécies e como seres humanos, animais racionais, que somos, entendemos através dos nossos professores, que num sistema, um depende do outro e na hora em que um falta, o outro é prejudicado.
Por isso, reflito sobre o dia em que Petrópolis parou, pode vir a parar ou vai mesmo parar.
A cidade teria feito parte de um dos sonhos de Raul Seixas e Cláudio Roberto, em 1977, quando escreveram a música “O dia em que a terra parou?”

“Essa noite eu tive um sonho de sonhador
Maluco que sou, eu sonhei com o dia em que a terra parou
O aluno não saiu para estudar.
Pois, sabia, o professor também não tava lá.
E o professor não saiu para lecionar
Pois sabia que não tinha mais nada para ensinar”.

Em relação à educação: quantas pessoas não estão saindo? Principalmente as crianças, não estão saindo da frente da televisão, ou de suas camas, ou de suas casas, pois estão sabendo que não tem porque ir. Ir pra onde? Ir pra escola que serve para muitos como porto seguro contra as questões difíceis do dia-a-dia, está sendo em Petrópolis, uma atividade difícil. Pessoas envolvidas que caminham junto ao calendário escolar, também estão parando, como o caso de comerciantes do trajeto escola-casa continuam saindo mas os produtos que vendem não saem com a mesma intensidade sem o movimento das crianças; além também dos motoristas de transporte escolar, que rodam mas não tem a mesma rotina; e assim, todos...
Mas, o que mais interessa nesse momento é como na música em que o “sonhador” disse que o professor não tinha mais nada para ensinar. As crianças estão dispostas a estudar, pois a escola é a referencia, mas o que se ensina? Ensinar sobre direitos e deveres a uma criança que vê a sua merenda na escola sendo preparada pelo profissional que tem como obrigação trabalhar o tempo que lhe foi determinado em contrato mas que recebe por isso menos do que lhe garante a lei como direito? O que ensinar na escola? Ensinamos, como educadores, as nossas crianças que elas devem respeitar o outro, tratando-lhe com educação e tendo atitudes que considerem as suas questões como válidas, mas na hora em que é necessário ouvir há o exemplo de omissão e total descomprometimento com as causas que incluem pessoas, suas famílias e todos que direta ou indiretamente estão envolvidos no salário recebido no fim de cada mês.
Em relação a saúde, para onde ir?

“E o paciente não saiu pra se tratar
pois sabia que o doutor também não tava lá.
E o doutor não saiu pra medicar
Pois sabia que não tinha mais doença pra curar”.

Sair e ir sem ter como certeza de que se chegar ao posto de pronto socorro terá como direito garantido o atendimento que lhe é necessário. É assim que se ensina: mesmo que as crianças petropolitanas não estejam em horário escolar, a vivencia é aquela que mais ensina, cidadãos não estão vendo o direito de seus afins garantidos. Um afim que também pode ser o doutor que deveria estar curando as doenças mas que não saiu porque não se sente motivado a deslocar sua energia desenvolvendo trabalho em cima dos conhecimentos que construiu em sala de aula com os professores responsáveis por essa função.
E todos somos envolvidos. Onde a cidade vai parar?
Quais são nossos direitos e deveres?
Temos o direito de manifestação das nossas ideias desde que elas não desrespeitem o espaço do outro, mas temos o dever de respeitar o nosso espaço e ver nossos direitos garantidos para que possamos viver com dignidade ensinando aos nossos dependentes, que só podem ser as crianças, aqueles que estarão em épocas futuras exercendo suas atividades com os exemplos que estão vendo agora, como se vive a cidadania.
Mas qual é o direito de uma criança e qual é o dever de uma escola? A escola como instituição tem seus deveres que devem ser exercidos desde que aqueles que lhe conduzem tenham os seus direitos garantidos e assim, muito bem escreveu Paulo Freire:

A Escola
“A Escola é... o lugar onde se faz amigos. Não se trata só de prédios, salas, quadros, programas, horários, conceitos ... Escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece, se estima. O diretor é gente, o coordenador é gente, o professor é gente, o aluno é gente, cada funcionário é gente. E a escola será cada vez melhor na medida em que cada um se comporte como colega, amigo, irmão. Nada de “ilha cercada de gente por todos os lados”. Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir que não tem amizade a ninguém; nada de ser como o tijolo que forma a parede, indiferente, frio, só. Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar, é também criar laços de amizade, é criar ambiente de camaradagem, é conviver, é se “amarrar nela”! Ora, é lógico... numa escola assim vai ser fácil estudar, trabalhar, crescer, fazer amigos, educar-se, ser feliz.”
Sendo assim: educar-se na escola! Obter conhecimento na escola! Crescer na escola! Ser formado na verdadeira cidadania. O que será que Paulo Freire estaria pensando num momento desse na cidade de Petrópolis? E o que estão nossas crianças pensando? Raul Seixas terminou a música cantando que no dia em que a terra parou, ele acordou, não sonhou... Que acordamos todos ao pensar, antes que a nossa cidade pare, o que é ser aluno, o que é ser escola, o que é ser educador, o que é ser representante, o que é ser principalmente Cidadão.


Artigo publicado na Tribuna de Petrópolis – 12/06/2010
Contato: gabriela-pujol@hotmail.com
















Quem somos no espetáculo da educação?
(Gabriela Pujol Bell Fernandes – profª).

Uma parte da educação pública em Petrópolis está parada. Isso aconteceu e essa situação continua sendo alvo de atenção. E então surge a reflexão sobre o que mais importa no ato de educar. Onde está o nosso juramento como profissionais ou para aqueles que não são profissionais graduados mas trabalham em cargos tão importantes, onde está o comprometimento que serve como exemplo?
Educamos todos os dias, nos educamos, educamos nossas mentes de acordo com as nossas atitudes pois inseridos num ambiente social elas refletem e transformam esse meio já que esperamos sempre que um mundo melhor mais justo, mais digno, mais humano surja. Então, como construir o espetáculo da vida? Transferimos conhecimento aos nossos alunos e às pessoas com quem convivemos mas, principalmente aquelas que, dependem de nós para aprender o que lhes é necessário, e, dessa forma, somos condutores que tem nas mãos uma grande missão. As vezes, como compôs Zé Ramalho, em Admirável Mundo Novo, “ é duro ter que caminhar, e dar muito mais do que receber. E ter que demonstrar sua coragem, a margem do que possa parecer, e ver que toda essa engrenagem, já sente a ferrugem lhe comer”; porém, olhando o outro é fácil perceber que a nossa vida é melhor do que a de muitos, é igual e às vezes é pior pois nos acreditamos tão superiores no alto da cadeia alimentar e no entanto, destruímos as nossas próprias relações.
Usemos o coração como órgão representante das emoções além de apenas a razão e caminhemos oferecendo nossa sabedoria com o simples propósito de transmitir o que é importante e tem valor. Para Augusto Cury em “Nunca desista de seus sonhos”, o professor precisa de sonhos para transformar a sala de aula num ambiente prazeroso e atraente que educa a emoção dos seus alunos, que os retira da condição de espectadores passivos para se tornarem atores no teatro da educação.
“Para o espetáculo da vida entreter, é importante que seja bem representado; para isso são necessários bons atores”, assim pensou o filósofo Nietzsche em Assim Falou Zaratustra.
E onde estamos educadores, atores da vida? O que estamos fazendo? Qual é o nosso espetáculo que fará com que a platéia levante-se e aplauda, reconhecendo que a mensagem enviada através de nossas atitudes ou palavras lhes acrescentou a alma; ou que apenas seguirá seu caminho refletindo sobre o que ouviu.
Sendo assim, voltemos a Nietzsche: “a palavra ‘educação’ significa: transformação através de novas e mais altas apreciações, que devem reinar sobre a humanidade semelhantes a condutores e orientadores do modo de agir e da concepção da vida”.
Dessa forma, entreguemo-nos à educação sem esperar reconhecimento mas conscientes da influencia na platéia que nos assiste.
Artigo publicado na Tribuna de Petrópolis – 23/06/2010.

E os alunos, quem são?
(Gabriela Pujol Bell Fernandes – educadora)

A educação é um assunto pertinente. Dela depende o ser humano para constituir-se sujeito num mundo vasto de questões necessárias ao seu desenvolvimento e assim, crescimento. Esse ser humano é aluno que precisa do Outro, no caso os professores da vida ou educadores; ou melhor, como explicou Rubem Alves em “Conversas com quem gosta de ensinar” que definiu o ser professor como profissão e o educador como vocação;
Sendo assim, se os professores são educadores que trabalham com a educação a fim de possibilitar a construção da aprendizagem a seus alunos, quem são esses alunos? O que eles buscam em nós educadores?
Educar é transformar. É trabalhar com algo valioso que é a vida. É ter em cada dia, um dia muito especial pois se a aprendizagem se constrói, um aluno também se constitui sujeito em todos os momentos em que interage com a vida. Pensar, como no livro “O pequeno príncipe” em que Saint-Exupéry faz a seguinte colocação: “Porque o rei fazia questão de que sua autoridade fosse respeitada. Não tolerava desobediência. Era um monarca absoluto. Mas, como era muito bom, dava ordens razoáveis. ‘Se eu ordenasse’, costumava dizer, ‘que um general se transformasse numa gaivota, e o general não me obedecesse, a culpa não seria do general, seria minha’’.
Por isso, um aluno precisa de nós. Seja uma criança, um jovem ou um adulto, ele será sempre aquele que busca se aprimorar mais e que existe por que tem na vida uma estrutura social e questões psíquicas que lhe impõem a caminhada. Trará à sala de aula suas experiências. Terá dificuldades que irão de acordo com as seus limites. Buscará resultados para superar suas expectativas. Estabelecerá uma comunicação com o meio da forma que melhor lhe seja a fim de construir a própria existência.
Para Maria Montessori em “A Criança”, “eis a verdadeira nova educação: partir primeiro à descoberta da criança e efetuar sua libertação. Nisto, pode-se dizer, consiste o problema da existência: primeiro, existir”. No entanto, somos todos alunos e pensando na interação, sempre que olharmos o Outro, ou o próximo, como um aluno da vida, estaremos agindo como ela sugeriu no mesmo livro: “só assim é possível dar início a uma nova era de educação: a do auxílio à vida”
“Existência clama por significado”, como propôs o filósofo Sartre. Existimos como alunos e aos nossos alunos. Existimos porque queremos que nossa vida seja a melhor e assim significamos a eles a luz que orienta o caminho e clareia a existência. Assim, construímos a nós próprios como alunos da vida pois nos aprimoramos, nos transformamos, crescemos e não paramos mais de crescer por estarmos em constante desenvolvimento.
Artigo publicado nos jornais Tribuna de Petrópolis e Diário de Petrópolis – 30/06/2010.

Nós, alunos, bons escolhedores.
(Gabriela Pujol Bell Fernandes – educadora).

A educação com a qual se constrói a vida tem a importante e diria mais nobre missão de tornar, os humanos, seres integrados num mundo globalizado e assim altamente conscientes de sua responsabilidade na interação com o mesmo. Os conhecimentos construídos na escola e na vivencia do dia-a-dia estão preparando, principalmente, nossos alunos à essa realidade? Conhecemos realmente o mundo em que vivemos sabendo realmente qual o sentido de tantos conceitos matemáticos, gramaticais, históricos e/ou geográficos que apreendemos na escola?
Ao sofrer mudanças de uma abordagem transdisciplinar para construtivista, a educação passou a pensar o ser humano como agente ativo da construção da aprendizagem, ao invés de apenas receptor passivo do conteúdo transmitido pelo professor, agente ativo. Dessa forma, tendo como principal objetivo que o aluno entenda-se como sujeito inserido na própria aprendizagem.
Sendo assim, estamos proporcionando a eles conhecimentos necessários a boas escolhas na construção da própria vida? Para Charlie Brown Jr. na música “Uma criança com seu olhar”, “nossas escolhas vão dizer pra onde iremos”, assim como o que é fundamental para o filósofo Kierkegaard segundo Jostein Gaarder em “O mundo de Sofia” , “somente quando agimos, e sobretudo quando fazemos escolhas, é que nos relacionamos com nossa própria existência“.
Por isso, trazer o aluno a entender a sua própria existência e de que forma está inserido no mundo, qual a sua importância e de uma forma concreta mostrar-lhe como fazer uso do que aprende na escola é uma forma de torna-lo responsável e consciente das suas escolhas. De uma forma prática, com os cuidados com a natureza, em atitudes que hoje, individuais parecem tão pequenas mas que por exemplo, a economia da água, luz e materiais como papel, a coleta do lixo, são importantes em cada pedacinho do planeta; há muito o que se ensinar. Uma conta de matemática para calcular o consumo da água e da luz no banho, na pia da cozinha, na máquina de lavar, na hora de lavar o carro..., assim como o impacto ambiental de pequenas atitudes a grandes como o acidente com o petróleo no México. Entender assim a aprendizagem escolar da forma transdisciplinar é proporcionar que os alunos entendam como argumentou Kierkegaard segundo Paul Strathern na coleção “em 90 minutos”, “que os valores que fazem do indivíduo o que é também fazem o mundo”.
Que mundo queremos para nós, alunos globalizados mas que conhecemos tão pouco das realidades que não fazem parte da nossa realidade? Estamos realmente globalizados? Construímos na escola conceitos favoráveis a isso? E o futuro? Será como escolhermos hoje. Iremos aonde nossos desejos, por conta da nossa consciência, nos levarem. Construiremos um mundo melhor conscientes do que queremos?
Enfim, será o que quisermos que seja.
Artigo publicado no jornal Diário de Petrópolis – 13/06/2010
Vendo o mundo
Gabriela Pujol Bell Fernandes – profª

O mundo é feito de relações. Existimos nas nossas necessidades. Cada um com a sua. Cada um com seu mundo. Somos e os outros também são. E, assim, o mundo se transforma. O nosso mundo se transforma quando o outro está nele. Mas como é o mundo do outro? E se falarmos na interação da escola, como é o mundo dos nossos alunos? Existe uma palavra em alemão “einfühlung” que quer dizer empatia e que significa sentir o que sentiria se estivesse na situação vivida pela outra pessoa.
Para o filósofo Nietzsche no livro Aurora, aforismo 118, “o que é então o próximo? – Que compreendemos de nosso próximo, senão suas fronteiras, quero dizer, aquilo com que ele se inscreve e se imprime em nós e sobre nós? Nada compreendemos dele, senão as mudanças em nós que são por ele causadas. Nós o construímos segundo o que sabemos de nós, dele fazemos um satélite de nosso próprio sistema: e, quando ele nos ilumina ou se escurece, e somos a causa última de ambas as coisas – nós acreditamos o contrário!”
O outro principalmente os alunos transformam nossa vida. Se nos permitirmos saber de cada aluno o que lhe impõem a caminhada, percebendo que não somos responsáveis por apenas lhes possibilitar a construção do conhecimento, mas tendo em vista o propósito dessa construção, nos seus limites de mundo, o próprio mundo escolar se tornará um local no qual a aprendizagem será vivida com uma perspectiva mais saudável e interessante.
“O levantamento mostrou que 40% dos jovens entre 15 a 17 anos que evadem das unidades de ensino deixam de estudar simplesmente porque acreditam que a escola é desinteressante”. Essa afirmação é de Sabrina Pacca em “Desisnteresse leva à evasão escolar”, matéria publicada no site www.fgv.br, sobre uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas.
Dessa forma, o mundo se constrói. O mundo que nossos alunos trazem de casa e que gostam de trazer à escola porque olharemos a eles com interesse para que haja a verdadeira interação aluno-professor. No livro “Uma professora fora de série”, Esmé Raji Codell fez a seguinte colocação: “Um dia a Ismene me disse: - A diferença entre uma professora iniciante e uma professora experiente é que a professora iniciante pergunta: “Como estou me saindo?” e a experiente pergunta:”Como as crianças estão se saindo?”.
Nós, educadores, alunos da vida, experientes, nos sairemos bem ao proporcionarmos essa interação tão nobre dentro do espaço escolar e que influencia tanto o cotidiano deles quando não estiverem perto de nós, pois saberemos como eles estão se saindo na vida com um mundo rico de informações e bem construído como nós auxiliamos.

Artigo publicado na Tribuna de Petrópolis – 18/07/2010



Conhecer a nós mesmos.
(Gabriela Pujol Bell Fernandes – profª)

O ser humano é concebido, nasce, cresce, desenvolve-se e morre. Assim acontece o ciclo da vida. Cheio de mistério, tão rico, tão intenso que vai diretamente ao encontro da necessidade das relações, da necessidade do Outro, daquele que completará o que falta. E, assim, é a vida. Existimos porque o Outro existe, mas somos particulares nas nossas próprias questões. Mas, quem somos nós? Somos nossos melhores amigos, pois nos conhecemos a nós próprios como propôs Sócrates com a sua belíssima indagação filosófica: Conhece-te a ti mesmo?
No desejo para que façamos parte da vida, há a nossa concepção. Um ser humano precisa do Outro pra isso. E, assim, somos gerados, numa disputa como contou Augusto Cury em “Você é Insubstituível”, “a disputa do espermatozóide para fecundar o óvulo. A corrida pelo direito de formar uma vida. Talvez você nunca tenha imaginado, mas já participou da mais excitante e perigosa aventura da existência”. Um precisa do outro. Mas desde que é liberado, aquele espermatozóide que é o mais forte, o mais determinado, por razões que a nossa razão desconhece e que fazem parte do mistério da vida, aquele que quer realmente participar, consegue fecundar o óvulo. E, assim, começamos a existir. Nossas células crescem, mudam, se transformam e nós vamos ganhando características. E somos o outro, aquele para quem a nossa mãe está transmitindo o que lhe é possível fornecer ao nosso desenvolvimento. Crescemos num ambiente interno que nada mais é do que o reflexo do meio externo no qual o desejo de que existíssemos aconteceu. Aí vem o pai e a família toda, as amizades e todos aqueles e tudo aquilo que faz parte do meio no qual essa mãe está inserida.
Por isso, a vida acontece. Ela é assim. Nós somos assim. Cada um com sua característica e cada um com sua história. Cada um com sua personalidade. Mas será que nos conhecemos tão bem? E o que fazemos com o que sabemos a nosso respeito? Existe uma colocação de Spinoza no livro “A arte do aconselhamento” de Rollo May, que diz o seguinte: “Eu vi que todas as coisas que eu temia nada tinham de bom ou mau, em si mesmas, mas apenas na medida em que a mente era por elas afetada. Aquele que compreende a si mesmo e a suas emoções, ama a Deus e quanto mais ama, mais compreende a si mesmo e suas emoções”. Assim como que para Sócrates, no mesmo livro, “uma vida que não é analisada não vale a pensa ser vivida”.
Existimos e quando nos conhecermos sabendo das nossas reais questões, sabendo como usar realmente todas as nossas capacidades e as disponibilidades de um organismo tão rico e cheio de vitalidade, será fácil fazer o que propôs Saint-Exupéry no livro “O pequeno príncipe”, “Tu julgarás a ti mesmo. É o mais difícil. É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues fazer um bom julgamento de ti, é um verdadeiro sábio”.
Sendo assim, sendo capaz de julgar a nós mesmos na fidelidade da nossa própria amizade tendo em vista que a nossa necessidade é acordar e dormir todos os dias construindo dessa forma, a vida, ficará claro que é esta que merece o nosso melhor julgamento pois para Nietzsche em “Assim Falou Zaratustra”, “dez vezes ao dia deve reconciliar-se consigo mesmo, porque é difícil vencermo-nos, e o que não estiver reconciliado dorme mal”.. Conciliados com a própria vida, em cada dia na nossa caminhada como um dia muito importante na construção da nossa vida, pois para Saint-Exupéry no mesmo livro, “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Só as crianças sabem o que procuram. Perdem tempo com uma boneca de pano, e a boneca se torna importante, e choram quando lhes é tomada...”.
Assim é fácil sermos nossos melhores amigos. Assim saberemos que a nossa existência, tão particular, tão pequena num mundo tão povoado, porém tão grande no tamanho da importância que dermos a ela. “Você era o Romeu-espermatozóide, profundamente solitário e apaixonado pela Julieta-óvulo. Um mundo de obstáculos havia entre você e sua amada. Você cometeu loucuras de amor para viver esse romance. Nunca alguém foi tão apaixonado pela vida como você”, assim descreveu Augusto Cury no mesmo livro citado. Saberemos o que queremos ao adquirir uma boneca que é válida, assim como todos os conceitos e objetos e atitudes, enfim, todas as nossas escolhas. Seremos responsáveis pela nossa própria vida que tão bem pode ser cativada.

terça-feira, 20 de julho de 2010

AH! Os amigos

AH! Os amigos.
(Gabriela Pujol Bell Fernandes – educadora).

O dia do amigo, hoje, 20 de julho, merece ser comemorado. Com manifestações físicas, materiais, por e-mail, por SMS, festas, ou com uma simples frase de “muito obrigado, amigo, por você caminhar comigo e auxiliar na construção da minha vida com seu jeito particular de ser”; assim como tantas formas que os verdadeiros amigos sabem como o outro pode ser lembrado.
Por isso, hoje a reflexão nos leva aos amigos. Como é ser um amigo?
“Os verdadeiros amigos”, como definiu Frei Anselmo Fracasso em “A arte de viver feliz”, “caminham juntos, crescem juntos e juntos se aperfeiçoam”.
Assim, tantas colocações fazem parte do nosso mundo sobre esse assunto, como as contidas nas letras de músicas como: “Canção da América“ por Milton Nascimento” “amigo é coisa pra se guardar no lado esquerdo do peito, dentro do coração...” ou em “Amigo” por Roberto Carlos, “você é meu amigo de fé, meu irmão camarada, amigo de tantos caminhos, de tantas jornadas...” ou em “Amigos para Sempre” por Agnaldo Rayol “amigos para sempre é o que nós iremos ser...” e, assim em tantas composições, mesmo nas mais antigas como em “Você e eu“ por Balão Mágico “Clara como a luz e certa como a verdade, quem é que não sabe do que eu quero falar? É da amizade...”.
Pois é, um assunto tão pertinente e tão rico. O que é a amizade? Voltemos a Frei Anselmo Fracasso: “A amizade é ajuda recíproca para o mútuo aperfeiçoamento”. Por isso, a amizade acontece. Ela não tem regras. Nós a construímos. Às vezes dá certo, às vezes não dá. Pode ser bonita, interessante, acrescentar ou tirar algo de nós, nos decepciona, nos deixa mais felizes; às vezes queremos que alguém esteja perto de nós, mas às vezes essa pessoa não quer nossa amizade e depois de uma longa caminhada juntos, não nos acompanha mais como descreveu Nietzsche em “A Gaia Ciência – livro I – aforismo 16”, “Uma vez estivemos tão próximos na vida, que nada mais parecia tolher nossa amizade e irmandade, e havia tão-só uma pequena passarela entre nós. Quando você ia pisá-la, perguntei-lhe: ‘Você quer cruzar a passarela para vir até mim?’. – Mas então você já não queria; e, quando solicitei novamente, você se calou. Desde então, montes e rios torrenciais, e tudo que separa e alheia, foram lançados entre nós, e ainda que quiséssemos nos aproximar, já não poderíamos! E quando você recorda aquela pequena passarela , não tem mais palavras – apenas soluços e assombro”.
Cada um com seu amigo, cada um com suas questões, cada caminho com suas passarelas. Um amigo é aquele que nos conhece, caminha conosco e mesmo que não queira atravessar pontes, saberemos com a compreensão da amizade, que ele não o fez porque talvez não estava pronto, ou porque suas questões que lhe impõem a caminhada existem e são para ele válidas nas suas escolhas.
Sendo assim, “a amizade é uma forma de amor”, segundo Frei Anselmo Fracasso no mesmo livro citado; e, “só poderá amar com sabedoria aquele que”, segundo Ovídio em “A arte de Amar”, “conhecer a si mesmo, pois só ele terá forças para seu empreendimento”.
Somos nós, verdadeiros amigos? Os amigos podem ser amorosos, compreensivos, empáticos; podem ser aqueles com quem trabalhamos, estudamos ou viajamos; podem ser pessoas mais novas ou mais velhas que nós; podem ser homens, podem ser mulheres; podem ser aqueles com quem apenas contamos para algum momento; aqueles que nos conhecem e mesmo de longe sabem o que se passa na nossa vida, de uma forma misteriosa nos percebem, nos entendem, nos compreendem; também podem ser aqueles para quem não cansamos de falar as mesmas coisas tentando ajudar e que mesmo no fundo do poço ainda tentamos porque criamos algum sentimento que não conseguimos explicar; enfim, assim e de tantas outras formas, amizade é algo tão íntimo, tão misterioso que diante de tantas suposições talvez não haja uma resposta para defini-la. Encontramos nela o que queremos e precisamos, como no filme Star Wars (Guerra nas Estrelas ) episódio V em que o aprendiz Jedi encontra-se na porta de uma caverna e pergunta ao seu mestre o que haverá lá dentro, e escuta que só o que levar com ele.
Dessa forma, viva! ao dia do amigo. Ser amigo ou ter um amigo. Ser amigo e ter amigos. Sejamos amigos de nós mesmos e tenhamos amigos que acreditam na nossa amizade.