quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Agredir significa: perda de conexão.
(Gabriela Pujol Bell Fernandes – educadora).

Bater, agredir, dar palmada ou pancadas, ou seja, nesse caso, qualquer atitude que sirva como pretexto na educação do Outro, seja ele, uma criança, um jovem ou um adulto, é uma atividade que representa nada mais do que a falta de condições do agressor em resolver conflitos ou mesmo se relacionar com aquele para quem deveria ser direcionado o respeito e afeto.
Por isso, essa questão sobre a lei que proíbe a palmada no caso das crianças, levanta muitos questionamentos sobre o que é mais importante quando se educa. Do que precisa o Outro para ser educado?
Para Freud, psicanalista, o mal da humanidade está na falta de afeto. Sendo assim, que tipo de afeto existe em uma agressão? Como justificar que para que exista a obediência, seja necessário machucar o Outro, esse que pode ser uma criança ou um adolescente, e essa questão se estende a todo tipo de agressão quando esta ocorre sempre que há uma divergência de opiniões, em que o agressor sempre se considera a parte mais forte.
Para Willian e Martha Sears em “Crianças bem resolvidas”, a autoridade tem que ser conquistada, mesmo quando você é um adulto feito e seu filho um recém-nascido de quatro quilos. As crianças não pensam como adultos. Seu método de criação vai ser mais tranqüilo se você aprender a tolerar comportamentos que acompanham a idade e o estágio de uma criança. A criação por apego ensina seus filhos a respeitar você porque você conhece as necessidades deles e os respeita”.
Quando um pai conhece o filho que tem, pois desde que esse é concebido, é visto como um ser que necessita do adulto para crescer e constituir-se como ser humano, ama a sua missão de educador e consegue com que, sentindo-se aceito e amparado essa criança, esteja conectada às regras e obediência baseada no entendimento das questões que são necessárias. No livro “O pequeno príncipe” de Saint-Exupéry, o general coloca o seguinte: “é preciso exigir de cada um o que cada um pode dar. A autoridade se baseia na razão. Se ordenares a teu povo que ele se lance ao mar, todos se rebelarão. Eu tenho o direito de exigir obediência porque minhas ordens são razoáveis”.
A razão. Nada mais do que a razão. Uma criança, um ser que precisa ser educado entende o que precisa ser feito se as ordens são claras e objetivas. “Quando você corrige o comportamento errado de seu filho, seu objetivo deve ser faze-lo se dar conta do que faz de errado, e o que deve fazer para retificá-lo. Não o deixe arrasado, faça-o saber que você sabe que ele é capaz de fazer melhor – e, então, ajude-o a não cometer o mesmo erro novamente”, explicam William e Martha Sears.
No caso daquelas palmadinhas na mão quando a criança usou a mesma para pegar ou tocar algo que não deveria, é preciso lembrar que crianças constroem sua aprendizagem de uma forma mais bem estruturada quando experimentam aquilo que precisam e, tocando o objeto que querem conhecer, elas estão assim, descobrindo texturas, formas, enfim, conhecendo o que se quer conhecer. Ora, uma criança está em fase de desenvolvimento e não tem capacidade para distinguir o que deve ou não ser tocado, a não ser que o adulto responsável pela sua educação lhe ensine, mas agredir por experimentar é tirar de um ser, em formação, a vontade de conhecer e explorar coisas novas na vida, pois este temerá sentir sempre a mesma dor; é transmitir-lhe assim, a ideia de que construir a sua vida e existência é algo muito perigoso e pode ser extremamente doloroso;
No livro “Nunca desista dos seus sonhos”, Augusto Cury coloca que “Epicuro acreditava ‘que os grandes navegadores deviam sua reputação aos temporais e às tempestades”. Grandes navegadores, grandes escritores, grandes sonhadores, grandes naquilo que escolherem, enfim, grandes seres humanos que acreditam em suas próprias capacidades e vêem a vida como um lugar acolhedor e possível de ser experimentado.
Dessa forma, quando amamos nossas crianças e transmitimos, à elas, disciplina com amor por desejarmos que sejam adultos muito bem-sucedidos, corajosos, determinados, felizes, capazes de caminhar mesmo que, vivendo a vida com obstáculos, estamos deixando a mais rica herança.

Artigo publicado no Diário de Petrópolis – 24/08/2010.

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